"Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!"(Jr 48,10).
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Ecclesia in Asia
Exortação Apostólica Pós-sinodal
ECCLESIA IN ASIA
aos Bispos aos Presbíteros e Diáconos
aos Religiosos e Religiosas e a
Todos os Fiés Leigos
Sobre Jesus Cristo Salvador
e Sua Missão de Amor e Serviço
na Ásia para que tenham Vida
e a Tenham em Abundância»(Jo
10, 10)
INTRODUÇÃO
As maravilhas do plano de Deus, na Ásia
A
Igreja na Ásia canta os louvores do « Deus da nossa salvação » (Sl 68/67,20 ) por ter escolhido iniciar o
seu plano salvador em terra asiática, através de homens e mulheres deste
continente. De fato, foi na Ásia que Deus deu início à revelação e
cumprimento do seu desígnio de salvação. Guiou os Patriarcas (cf. Gen
12) e chamou Moisés para conduzir o seu povo para a liberdade (cf. Ex 3,
10).
Falou ao seu povo eleito através de muitos profetas, juízes, reis e corajosas
mulheres de fé. Na « plenitude dos tempos » (Gl 4, 4),
enviou o seu Filho unigênito, Jesus Cristo Salvador, que encarnou com corpo
semelhante ao de um asiático! Exultando pela bondade dos povos do Continente,
pelas suas culturas e vitalidade religiosa, mas ao mesmo tempo consciente do dom
único da fé que ela recebeu para benefício de todos, a Igreja na Ásia não pode
deixar de proclamar: « Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o seu
amor » (Sl 118/117, 1).
Uma vez que Jesus nasceu, viveu, morreu e
ressuscitou dos mortos na Terra Santa, esta pequena porção da Ásia Ocidental
tornou-se uma terra de promessa e de esperança para todo o gênero humano.
Jesus conheceu e amou esta terra. Assumiu como próprios a história, os
sofrimentos e as esperanças do seu povo. Amou a sua gente e abraçou as tradições
e herança judaicas. De fato, muito tempo antes Deus escolhera este povo e
revelou-Se a ele preparando a vinda do Salvador. E desta terra, pela pregação
do Evangelho com o poder do Espírito Santo, a Igreja estendeu-se até fazer «
discípulos de todas as nações » (Mt 28, 19). Com a Igreja espalhada
por todo o mundo, a Igreja da Ásia cruzará o limiar do Terceiro Milênio Cristão,
cheia de admiração por tudo o que Deus operou desde o início até agora, e
bem consciente de que, « assim como no primeiro milênio a Cruz foi implantada
no solo da Europa e, no segundo milênio, o mesmo ocorreu na América e na África,
nós rezaremos para que, no terceiro milênio cristão, uma grande colheita de fé
possa ser feita neste continente tão vasto e vivo ».1
Preparação da
Assembléia Especial
. Na Carta Apostólica Tertio millennio
adveniente, apresentei um programa para a Igreja acolher bem o terceiro milênio
de cristianismo, um programa centrado nos desafios da nova evangelização. Um
aspecto importante desse plano era a realização de Sínodos Continentais
onde os Bispos pudessem tratar a questão da evangelização de acordo com a
situação particular e as necessidades de cada continente. Esta série de Sínodos,
ligados entre si pelo tema da nova evangelização, demonstrou-se uma parte
importante da preparação da Igreja para o Grande Jubileu do Ano 2000.
Na referida Carta Apostólica, ao mencionar a
assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, observei que é nesta
parte do mundo onde aparece « mais acentuada a questão do encontro do
cristianismo com as antiqüíssimas culturas e religiões locais. Grande desafio,
este, para a evangelização, dado que sistemas religiosos como o budismo ou o hinduismo
se propõem com um claro caráter soteriológico ».2 E
realmente um mistério o motivo pelo qual o Salvador do mundo, nascido na Ásia,
tenha permanecido até agora largamente desconhecido para a população do
continente.
O Sínodo haveria de ser uma ocasião providencial para a Igreja da
Ásia refletir primariamente neste mistério e renovar o compromisso para com a
missão de tornar Jesus Cristo melhor conhecido a todos. Dois meses depois da
publicação da Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, ao
dirigir-me à VI assembléia Plenária da Federação das Conferências
Episcopais da Ásia, em Manila nas Filipinas, durante as memoráveis celebrações
da X Jornada Mundial da Juventude, lembrei aos Bispos: « Se a Igreja da Ásia
deve realizar o seu destino providencial, então uma evangelização entendida
como o jubiloso, paciente e progressivo anúncio da Morte salvífica e Ressurreição
de Jesus Cristo há-de ser a vossa prioridade absoluta ».3
A resposta positiva dos Bispos e das Igrejas
particulares à idéia de uma assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos
Bispos foi evidente ao longo de toda a fase preparatória. Os Bispos comunicaram
seus desejos e opiniões sobre cada ponto com franqueza e profundo conhecimento
da situação do Continente. Fizeram-no com plena consciência do vínculo de
comunhão que partilham com a Igreja Universal. Em sintonia com a idéia original
da Carta Apostólica Tertio millennio adveniente e seguindo as propostas
do Conselho Pré-Sinodal que ponderara o parecer dos Bispos e Igrejas
particulares do Continente asiático, escolhi como tema do Sínodo: « Jesus
Cristo Salvador e a sua missão de amor e serviço na Ásia: Para que
tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10, 10) ». Com esta
formulação particular do tema, pretendi que o Sínodo pudesse « ilustrar e
aprofundar a verdade sobre Cristo como único Mediador entre Deus e os homens e
único Redentor do mundo, distinguindo-O bem dos fundadores de outras grandes
religiões ».4 Ao aproximarmo-nos do Grande Jubileu, a Igreja na Ásia
precisa de estar em condições de proclamar com renovado vigor: Ecce natus
est nobis Salvator mundi, « Eis o Salvador do mundo nascido para nós »,
... nascido na Ásia!
A celebração da
assembléia Especial
. Pela graça de Deus, a
assembléia Especial
para a Ásia do Sínodo dos Bispos teve lugar de 18 de Abril a 14 de Maio de
1998 no Vaticano. Realizou-se depois das Assembléias Especiais para a África
(1994) e para a América (1997), seguindo-se-lhe no final do ano de 1998 a assembléia
Especial para a Oceania. Durante quase um mês, os Padres Sinodais e
outros participantes, reunidos à volta do Sucessor de Pedro e partilhando o dom
da comunhão hierárquica, deram voz e rosto à Igreja da Ásia. Foi realmente
um momento de graça especial! 5 Anteriores reuniões de Bispos asiáticos
tinham contribuído para preparar o Sínodo e tornar possível uma atmosfera de
intensa comunhão eclesial e fraterna. Foram de particular relevo, a tal
respeito, as precedentes assembléias Plenárias e Seminários patrocinados pela
Federação das Conferências Episcopais da Ásia e seus departamentos, que
faziam com que se encontrassem periodicamente grande número de Bispos asiáticos,
cimentando entre eles laços pessoais e ministeriais. Tive o privilégio de
tomar parte nalguns destes encontros, presidindo na mesma altura às solenes
Celebrações Eucarísticas de abertura ou encerramento.
Em tais ocasiões, pude
observar diretamente a experiência de diálogo entre as Igrejas
particulares, incluindo as Igrejas Orientais, na pessoa dos seus Pastores. Estas
e outras assembléias regionais dos Bispos da Ásia serviram providencialmente de
preparação remota para a assembléia Sinodal.
A própria celebração do Sínodo confirmou
a importância do diálogo como uma forma característica da vida da Igreja
na Ásia. Comprovou-se que uma sincera e leal partilha de experiências, idéias
e propostas é o caminho para um genuíno encontro de almas, uma comunhão
de mentes e corações que, no amor, se respeitam e transcendem as diferenças.
Particularmente comovente foi o encontro das novas Igrejas com as antigas
Igrejas cujas origens remontam aos Apóstolos. Experimentamos a alegria
incomparável que sentiam os Bispos das Igrejas particulares no Myanmar [ex-Birmânia],
Vietnam, Laos, Camboja, Mongólia, Sibéria e nas novas Repúblicas da Ásia
Central, por poderem sentar-se ao lado de seus Irmãos, que há muito tempo também
os desejavam encontrar e dialogar com eles. Contudo havia também uma sensação
de tristeza pelo fato de não poderem estar presentes os Bispos da China
continental. A sua ausência constituiu uma lembrança constante dos sacrifícios
e sofrimentos heróicos que a Igreja continua a suportar em muitas partes da Ásia.
A experiência de diálogo dos Bispos e do
Sucessor de Pedro, a quem está confiada a tarefa de fortalecer os seus irmãos
(cf. Lc 22, 32), foi verdadeiramente uma confirmação na fé e na missão.
Dia após dia, a Aula do Sínodo e as salas de grupo enchiam-se com relatórios
de fé profunda, amor de auto-imolação, inabalável esperança, compromisso à
custa de longos sofrimentos, coragem constante, perdão misericordioso,
manifestando-se eloqüentemente em tudo isso a verdade das palavras de Jesus: «
Eu estarei sempre convosco » (Mt 28, 20).
O Sínodo constituiu um momento de graça, porque foi um encontro com o Salvador
que continua a estar presente na sua Igreja pelo poder do Espírito Santo,
palpável num diálogo fraterno de vida, comunhão e missão.
Partilha dos frutos da
assembléia Especial
. Através desta Exortação Apostólica Pós-Sinodal,
desejo partilhar com a Igreja presente na Ásia e no mundo inteiro os frutos
desta assembléia Especial. Este documento procura transmitir a riqueza deste
grande acontecimento espiritual de comunhão e colegialidade episcopal. O Sínodo
foi uma evocação celebrativa dos caminhos asiáticos do cristianismo.
Os Padres Sinodais recordaram a primeira Comunidade Cristã, a primitiva Igreja,
pequenino rebanho de Jesus neste Continente imenso (cf. Lc 12, 32).
Recordaram o que a Igreja recebeu e ouviu desde o início (cf. Ap 3, 3),
e, depois de o recordar, celebraram a « imensa bondade » (Sl 145/144,7)
de Deus, que nunca falha. O Sínodo foi também uma ocasião para reconhecer as
tradições religiosas e civilizações antigas, as profundas filosofias e sabedoria
que fizeram da Ásia aquilo que ela é hoje.
E sobretudo foram lembrados os
próprios povos da Ásia, que constituem a verdadeira riqueza e esperança do
futuro do Continente. Durante o Sínodo, aqueles que estiveram presentes foram
testemunhas dum encontro extraordinariamente frutuoso entre as antigas e as
novas culturas e civilizações da Ásia, um panorama maravilhoso na sua
diversidade e convergência, especialmente quando símbolos, cânticos, danças e
cores apareceram juntos, em harmoniosa combinação, à volta da Mesa do Senhor,
nas Liturgias Eucarísticas de abertura e encerramento.
Uma celebração ditada, não pela vaidade de
realizações humanas, mas pela consciência do que o Altíssimo tem feito pela
Igreja da Ásia (cf. Lc 1,49). Recordando a humilde condição da
Comunidade católica e ainda as fraquezas dos seus membros, o Sínodo foi também
uma chamada à conversão, para que a Igreja da Ásia pudesse tornar-se
mais digna ainda das graças que continuamente lhe têm sido oferecidas por
Deus.
Para além de comemoração e celebração, o
Sínodo foi também uma ardente afirmação de fé em Jesus Cristo
Salvador. Agradecidos pelo dom da fé, os Padres Sinodais concluíram que não
há melhor meio para celebrar a fé do que afirmá-la na sua integridade, e refletir
como relacioná-la com o contexto no qual ela tem de ser proclamada e
professada na Ásia de hoje.
Freqüentemente puseram em realce que a fé está já
a ser proclamada com confiança e coragem no Continente, embora no meio de
grandes dificuldades. Em nome dos muitos milhões de homens e mulheres da Ásia
que põem a sua confiança apenas no Senhor, os Padres Sinodais confessaram: «
Nós acreditamos e sabemos que és o Santo de Deus » (Jo 6, 69). Diante
das muitas e dolorosas questões suscitadas pelo sofrimento, a violência, a
discriminação e a pobreza a que a maioria dos povos asiáticos está sujeita,
aqueles rezaram: « Eu creio! Ajuda a minha incredulidade » (Mc 9, 24).
Em 1995, convidei os Bispos da Ásia,
reunidos em Manila, a « abrirem de par em par as portas da Ásia a Cristo ».6
Revigorados pelo mistério de comunhão com os inumeráveis e muitas vezes
desconhecidos mártires da fé na Ásia e confirmados na esperança pela presença
contínua do Espírito Santo, os Padres Sinodais corajosamente chamaram todos os
discípulos de Cristo da Ásia a um renovado compromisso pela missão.
Durante a assembléia Sinodal, os Bispos e demais participantes foram testemunhas
do gênio, do ardor e zelo espiritual, que seguramente farão da Ásia a terra
duma abundante colheita no milênio vindouro.
CAPÍTULO I -
O CONTEXTO ASIÁTICO
A Ásia, terra natal de Jesus e da
Igreja
. A encarnação do Filho de Deus, que toda
a Igreja comemorará solenemente no Grande Jubileu do Ano 2000, deu-se num
contexto histórico e geográfico definido. Este contexto exerceu uma importante
influência na vida e missão do Redentor enquanto homem. « Em Jesus de Nazaré,
Deus assumiu as características próprias da natureza humana, incluindo a
pertença obrigatória do indivíduo a um povo concreto e a uma determinada
terra. (...) A dimensão concreta e física da terra e as suas coordenadas geográficas
fazem parte da verdade da carne humana assumida pelo Verbo ».7 Por
conseguinte, o conhecimento do mundo onde o Salvador « habitou entre nós » (Jo
1, 14) é uma chave importante para a compreensão mais exata do desígnio do
Eterno Pai e da imensidão do seu amor por toda a criatura: « Porque Deus amou
de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n'Ele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna » (Jo 3, 16).
Da mesma forma, a Igreja vive e cumpre a sua
missão nas circunstâncias atuais de tempo e lugar. É essencial um
conhecimento crítico das diversas e complexas realidades da Ásia, se o Povo de
Deus neste Continente quiser corresponder ao desígnio duma nova evangelização
que Deus tem sobre ele. Os Padres Sinodais afirmaram insistentemente que a missão
de amor e serviço da Igreja na Ásia está condicionada por dois fatores: por
um lado, a compreensão de si própria como uma comunidade de discípulos de
Jesus Cristo congregada à volta dos seus Pastores, e, por outro, as realidades
sociais, políticas, religiosas, culturais e econômicas da Ásia.8 A
situação da Ásia foi examinada detalhadamente durante o Sínodo por aqueles
que vivem em contacto diário com as realidades, extremamente diversificadas, de
tão imenso Continente. O que se segue é, em síntese, o resultado das reflexões
dos Padres Sinodais.
Realidades religiosas e culturais
6. A Ásia é o continente mais vasto da
terra e a casa de aproximadamente dois terços da população mundial, contando
a China e a Índia quase metade da população total do globo. A característica
mais notável do Continente é a variedade das suas populações, que são «
herdeiras de antigas culturas, religiões e tradições ».9 Não
podemos deixar de ficar maravilhados perante a imensidão da população da Ásia
e o complexo mosaico das suas múltiplas culturas, línguas, crenças e tradições,
que abrangem uma parte substancial da história e do patrimônio da família
humana.
A Ásia é também o berço das maiores
religiões do mundo: judaísmo, cristianismo, islamismo e hinduísmo. É a terra
natal de muitas outras tradições espirituais como o budismo, taoísmo,
confucionismo, zoroastrismo, jainismo, sikhismo e xintoísmo. São milhões também
os que vivem comprometidos com religiões tradicionais ou tribais, com variados
graus de um complexo ritual e de ensino religioso formal. A Igreja nutre o mais
profundo respeito por estas tradições e deseja empenhar-se num diálogo
sincero com os seus seguidores. Os valores religiosos, que ensinam, aguardam
pelo seu pleno cumprimento em Jesus Cristo.
O povo da Ásia ufana-se dos seus valores
religiosos e culturais, tais como amor ao silêncio e contemplação,
simplicidade, harmonia, desprendimento, não-violência, espírito de sacrifício,
disciplina, vida frugal, sede de saber e indagação filosófica.10
Tem em grande apreço os valores do respeito pela vida, compaixão por todos os
seres, cuidado com a natureza, piedade filial pelos familiares, idosos e
antepassados, e um sentido muito vivo de comunidade.11 De maneira
particular, considera a família como uma fonte vital de energia, como uma
comunidade tecida intimamente por um poderoso sentimento de solidariedade.12
Os povos asiáticos são conhecidos pelo seu espírito de tolerância religiosa
e de coexistência pacífica. Sem negar a existência de dolorosas tensões e
violentos conflitos, pode-se tranqüilamente afirmar que a Ásia demonstrou freqüentemente
uma notável capacidade de adaptação e uma abertura natural ao
mútuo enriquecimento das pessoas no meio de uma pluralidade de religiões e
culturas.
Além disso, apesar da influência da modernidade e da secularização,
as religiões asiáticas estão a mostrar sinais de grande vitalidade e uma boa
capacidade de renovação, como se vê pelos movimentos reformistas no âmbito
dos diversos grupos religiosos. Muitas pessoas, sobretudo jovens, sentem um
profundo desejo de valores espirituais, como bem o demonstra o aparecimento de
novos movimentos religiosos.
Tudo isto aponta para uma natural percepção
espiritual e sabedoria moral no espírito asiático e constitui o centro à
volta do qual se formou um sentido crescente de « ser asiático ». Este « ser
asiático » identificou-se e foi-se consolidando, não no confronto e oposição,
mas no espírito de complementaridade e harmonia. Nesta trama feita de
complementaridade e harmonia, a Igreja há-de comunicar o Evangelho de modo tal
que seja simultaneamente fiel à sua própria Tradição e ao espírito asiático.
Realidades
econômicas e sociais
7. Quanto ao andamento do progresso
econômico,
são muito diversas as situações no continente asiático, impedindo uma
simples classificação. Alguns países são superdesenvolvidos, outros estão a
desenvolver-se graças a efetivas políticas econômicas, e outros ainda
encontram-se em degradante pobreza, contando-se de fato entre as nações mais
pobres da terra. Com o processo de desenvolvimento, foram também ganhando
terreno, sobretudo nas áreas urbanas, o materialismo e o secularismo. Estas
ideologias, que minam os valores sociais e religiosos tradicionais, ameaçam as
culturas da Ásia, com um dano incalculável.
Os Padres Sinodais falaram das rápidas mudanças,
que se estão a verificar nas sociedades asiáticas, e dos aspectos positivos e
negativos das mesmas. Dentre elas conta-se o fenômeno da urbanização e o
aparecimento de imensos aglomerados urbanos, freqüentemente com largas áreas
deprimidas, onde prolifera o crime organizado, o terrorismo, a prostituição e
a exploração das faixas débeis da sociedade. Também a migração é um fenômeno
social saliente, expondo milhões de pessoas a situações penosas econômica,
cultural e moralmente. As pessoas emigram, quer dentro da Ásia quer da Ásia
para outros continentes, por muitas razões, sendo algumas delas a pobreza, a
guerra e os conflitos étnicos, a negação dos seus direitos humanos e
liberdades fundamentais. A constituição de complexos industriais gigantes é
outra causa de emigração interna e externa, com efeitos devastantes sobre a
vida e valores familiares. Também se fez menção da construção de potentes
instalações nucleares, escolhidas pelo seu custo e eficiência mas com pouco
respeito pela saúde das populações e pela integridade do ambiente.
A realidade do turismo justifica também
especial atenção. Embora sendo uma atividade legítima com seus próprios
valores culturais e educativos, o turismo exerce, nalguns casos, uma influência
devastadora no cenário moral e físico de muitos países asiáticos, patente na
degradação de jovens e até crianças pela prostituição.13 O
cuidado pastoral tanto dos migrantes como dos turistas é difícil e complexo,
sobretudo na Ásia onde faltam as estruturas básicas para o efeito. Ao planear
a pastoral, a todos os níveis, é necessário tomar estas realidades em
consideração. Neste contexto, devemos não esquecer os migrantes das Igrejas
Católicas Orientais que necessitam de cuidados pastorais de acordo com as suas
próprias tradições eclesiásticas.14
Vários países asiáticos enfrentam
dificuldades relacionadas com o crescimento da população, que não é «
simplesmente um problema demográfico e econômico, mas sobretudo um problema
moral ».15 É claro para todos que a questão da população está
estritamente ligada com a promoção humana, mas abundam falsas soluções que
atentam contra o caráter inviolável e a dignidade da vida, e constituem um
desafio especial para a Igreja da Ásia. Talvez neste momento venha a propósito
lembrar a contribuição da Igreja para a defesa e promoção da vida, através
de cuidados sanitários, do desenvolvimento social e da educação, para benefício
das pessoas, sobretudo dos pobres. Era oportuno que esta assembléia Especial
para a Ásia prestasse homenagem à falecida Madre Teresa de Calcutá, « que se
tornou conhecida em todo o mundo pelo seu amor e generosa solicitude pelos mais
pobres dos pobres ».16 Ela permanece como um ícone do serviço à
vida que a Igreja está a oferecer à Ásia, contrastando corajosamente com
muitas forças ocultas em ação na sociedade.
Um certo número de Padres Sinodais sublinhou
as influências externas que estão a penetrar nas culturas asiáticas. Vão
surgindo formas novas de comportamento resultantes da orientação dos
mass-media e dos tipos de literatura, música e filmes que estão a proliferar
no Continente. Sem negar que os meios de comunicação social podem ser uma
grande força para o bem,17 não se pode ignorar o impacto negativo
que freqüentemente produzem. De fato, os seus efeitos benéficos podem ser
sobrepujados pelo modo como são controlados e utilizados por pessoas com
interesses política, econômica e ideologicamente discutíveis. Em conseqüência
disso, os aspectos negativos dos mass-media e espectáculos estão a ameaçar os
valores tradicionais, e de modo particular a sacralidade do matrimônio e a
estabilidade da família. O efeito de imagens de violência, hedonismo,
individualismo e materialismo desenfreado « é impressionante no íntimo das
culturas asiáticas, no caráter religioso das pessoas, famílias e sociedades
inteiras ».18 Esta é uma situação que oferece um grande desafio
à Igreja e à proclamação da sua mensagem.
A realidade persistente de pobreza e exploração
de pessoas é objeto da mais premente preocupação. Na Ásia, há milhões de
pessoas oprimidas, que, durante séculos, foram postas econômica, cultural e
politicamente à margem da sociedade.19 Ao refletirem sobre a situação
da mulher nas sociedades asiáticas, os Padres Sinodais observaram que, «
embora o despertar da consciência da mulher para a sua dignidade e os seus
direitos seja um dos sinais dos tempos mais significativos, a pobreza e a
exploração da mulher continua a ser um problema sério por toda a Ásia ».20
O analfabetismo feminino é muito superior ao masculino; e as crianças de sexo
feminino sofrem maior probabilidade de ser abortadas ou mesmo assassinadas
depois do nascimento. Existem também milhões de indígenas ou populações
tribais por toda a Ásia que vivem segregados social, cultural e politicamente
da população dominante.21 Foi tranqüilizador ouvir os Bispos
dizerem ao Sínodo que, nalguns casos, estas questões estão a ser objeto de
maior atenção a nível nacional, regional e internacional, e que a Igreja está
ativamente empenhada a perorar esta séria situação.
Os Padres Sinodais puseram em destaque que
esta reflexão, necessariamente breve, sobre as realidades econômicas e sociais
da Ásia não seria completa se não se reconhecesse também o vasto crescimento
econômico que, nas últimas décadas, caracterizou muitas sociedades asiáticas:
uma nova geração de operários especializados, cientistas, técnicos está
crescendo diariamente, e o seu grande número é de bom auspício para o
desenvolvimento da Ásia. Apesar disso, nem tudo é estável e seguro em tal
progresso, como ficou patente na recente e profunda crise financeira sofrida por
numerosos países asiáticos. O futuro da Ásia reside na cooperação, tanto no
âmbito interno como com as nações de outros continentes, mas há-de ser
sempre edificado sobre o que os asiáticos fazem em ordem ao seu próprio
desenvolvimento.
Realidades políticas
8. A Igreja precisa sempre de ter uma
compreensão exata da situação política nos diversos países onde ela
procura cumprir a sua missão. Na Ásia, atualmente o panorama político é
muito complexo, ostentando um leque de ideologias que varia desde formas democráticas
de governo até formas teocráticas. Ditaduras militares e ideologias ateias estão
muito presentes. Alguns países reconhecem uma religião oficial de Estado, que
deixa pouca ou nenhuma liberdade religiosa às minorias e aos seguidores de
outras religiões. Outros Estados, embora não explicitamente teocráticos,
reduzem as minorias a cidadãos de segunda classe com menor salvaguarda dos seus
direitos fundamentais. Nalguns lugares, não é permitido aos cristãos
praticarem livremente a sua fé nem anunciar Jesus aos outros.22 São
perseguidos e é-lhes negado o seu justo lugar na sociedade. Os Padres Sinodais
recordaram de maneira particular o povo da China, manifestando a veemente
esperança de que todos os seus irmãos e irmãs chineses católicos tenham um
dia a possibilidade de cumprir livremente a sua religião e professar
visivelmente a sua plena comunhão com a Sé de Pedro.23
Ao mesmo tempo que manifestavam apreço pelo
progresso que muitos países asiáticos estão a realizar nas suas diferentes
formas de governo, os Padres Sinodais chamaram a atenção para a larga corrupção
que existe a vários níveis tanto do governo como da sociedade.24 E freqüentemente
as pessoas vêem-se abandonadas na sua própria defesa contra políticos,
juízes, administradores e funcionários corruptos. Mas, por toda a Ásia vai
crescendo a consciência da capacidade do povo para mudar estruturas injustas.
Existem novas reivindicações de maior justiça social, de mais participação
no governo e na vida econômica, de iguais oportunidades na educação, e duma
justa partilha dos recursos da nação.
De forma crescente as pessoas vão-se
tornando conscientes da sua dignidade e direitos humanos, e mais determinadas a
salvaguardá-los. Longamente adormecidos, grupos étnica, social e culturalmente
minoritários estão a procurar o modo de se tornarem agentes do seu próprio
desenvolvimento social. O Espírito de Deus ajuda e sustenta os esforços das
pessoas para transformar a sociedade de tal modo que o anseio humano duma vida
em abundância possa ser satisfeito como Deus quer (cf. Jo 10, 10).
A Igreja da Ásia: passado e presente
9. A história eclesial na Ásia é tão
antiga como a própria Igreja, porque foi neste Continente que Jesus derramou o
Espírito Santo sobre os seus discípulos e os enviou até aos confins da terra
para proclamarem a Boa Nova e congregarem os crentes em comunidades. « Assim
como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós » (Jo 20, 21; veja-se
também Mt 28, 18-20; Mc 16, 15-18; Lc 24, 47; At
1, 8).
Obedecendo ao mandato do Senhor, os Apóstolos pregaram a Palavra e fundaram
Igrejas. Pode servir de ajuda lembrar aqui alguns elementos desta história
fascinante e complexa.
Partindo de Jerusalém, a Igreja dilatou-se
até Antioquia, Roma e mais além. Chegou à Etiópia a sul, à Cita a norte, e
à Índia a oriente, onde, segundo a tradição, esteve o apóstolo S. Tomé
pelo ano 52 e fundou Igrejas no sul da Índia. O espírito missionário da
Comunidade Síria Oriental dos séculos III e IV, com centro em Edessa, foi notável.
As comunidades ascéticas da Síria foram uma força considerável de evangelização
na Ásia desde o século III em diante. Elas deram energia espiritual à Igreja,
sobretudo durante os tempos de perseguição. A Armênia foi a primeira nação
em bloco a abraçar o cristianismo; isto deu-se no final do século III,
preparando-se ela agora para celebrar os 1700 anos do seu batismo. Pelo fim do
século V, a mensagem cristã chegou aos Reinos Árabes, mas por diversas razões,
sendo uma delas as divisões entre cristãos, a mensagem não conseguiu lançar
raízes entre estes povos.
Comerciantes persas levaram a Boa Nova até
à China no século V. A primeira igreja cristã foi lá construída no início
do século VII. Durante a dinastia T'ang (618-907), a Igreja floresceu por cerca
de duzentos anos. O declínio desta entusiasta Igreja da China, nos fins do
primeiro milênio, é um dos capítulos mais tristes da história do Povo de
Deus no Continente.
No século XIII, a Boa Nova foi anunciada aos
Mongóis e aos Turcos e novamente aos Chineses. Mas o cristianismo quase
desapareceu nestas regiões por numerosos motivos, contando-se entre eles o
ressurgimento do islamismo, o isolamento geográfico, a falta de uma adaptação
apropriada às culturas locais e, talvez acima de tudo, a falta de preparação
para ir ao encontro das grandes religiões da Ásia. O fim do século XIV viu
uma diminuição drástica da Igreja na Ásia, à exceção da comunidade
isolada no sul da Índia. A Igreja da Ásia tem de esperar uma nova era de esforço
missionário.
O trabalho apostólico de S. Francisco
Xavier, a fundação da Congregação Propaganda Fide pelo Papa Gregório
XV, e as orientações dadas aos missionários para respeitarem e estimarem as
culturas locais, tudo contribuiu para se obter resultados muito positivos no
decurso do século XVI e XVII. No século XIX, houve novamente um ressurgimento
da atividade missionária. Várias congregações religiosas empenharam-se
completamente nesta tarefa. A Congregação Propaganda Fide foi
reorganizada.
A insistência maior foi posta sobre a edificação das Igrejas
locais. Obras educativas e caritativas andavam de mãos dadas com a pregação
do Evangelho. Conseqüentemente a Boa Nova continuou a estender-se a um número
sempre maior de pessoas, sobretudo entre os pobres e marginalizados, mas também,
aqui e além, no meio de elites sociais e intelectuais. Fizeram-se novas
tentativas para inculturar a Boa Nova, embora se revelassem ainda insuficientes.
Não obstante a sua presença por longos séculos e os seus múltiplos esforços
apostólicos, a Igreja em muitos lugares é ainda considerada como estranha à
Ásia, tendo mesmo sido associada muitas vezes, na mente das pessoas, com os
poderes coloniais.
Esta era a situação nas vésperas do Concílio
Vaticano II; mas, graças ao impulso dado pelo Concílio, despertou uma nova
compreensão da missão e, com ela, uma grande esperança. A universalidade do
plano divino da salvação, a natureza missionária da Igreja e a
responsabilidade de todos e cada um na Igreja por esta tarefa, tão fortemente
reafirmadas no Decreto conciliar sobre a atividade missionária da Igreja Ad
gentes, tornou-se a estrutura de um novo compromisso. Durante a assembléia Especial, os Padres Sinodais deram testemunho do recente crescimento da
comunidade eclesial no meio dos mais diversos povos e em várias partes do
Continente, e apelaram para novos esforços missionários nos anos vindouros,
especialmente com as novas possibilidades abertas à proclamação do Evangelho
na Região Siberiana e nos países da Ásia Central que conquistaram
recentemente a sua independência como Cazaquistão, Usbequistão, Quirguistão,
Tajiquistão e Turquemenistão.25
Uma análise das comunidades católicas na Ásia
mostra uma variedade magnífica quer pela sua origem e desenvolvimento histórico,
quer por causa das diferentes tradições espirituais e litúrgicas dos vários
ritos. Mas, todas elas estão unidas na proclamação da Boa Nova de Jesus
Cristo através do testemunho cristão e das obras de caridade e de
solidariedade humana. Enquanto algumas Igrejas particulares cumprem a sua missão
em paz e liberdade, outras encontram-se em situações de violência e conflito
ou sentem-se ameaçadas por grupos vários, por motivos religiosos ou de outra
espécie. No mundo cultural imensamente diversificado da Ásia, a Igreja
enfrenta múltiplos desafios filosóficos, teológicos e pastorais. A sua missão
torna-se mais difícil pelo fato de ser uma minoria, com a única exceção das Filipinas, onde os católicos são a maioria.
Independentemente das circunstâncias, a
Igreja na Ásia encontra-se no meio de pessoas que mostram um forte anseio de
Deus. A Igreja reconhece que este anseio só pode ser plenamente satisfeito por
Jesus Cristo, a Boa Nova de Deus para todas as nações. Os Padres Sinodais
insistiram muito que esta Exortação Apostólica Pós-Sinodal focasse a sua
atenção sobre tal anseio e encorajasse a Igreja da Ásia a proclamar
vigorosamente, por palavras e obras, que Jesus Cristo é o Salvador.
O Espírito de Deus, sempre
ativo na história
da Igreja da Ásia, continua a guiá-la. Os numerosos elementos positivos que se
encontram nas Igrejas locais, postos freqüentemente em evidência no Sínodo,
reforçam a nossa expectativa de uma « nova primavera de vida cristã ».26
Um sólido motivo de esperança é o número crescente de leigos, melhor
formados e cheios de entusiasmo e de Espírito, que estão cada vez mais
conscientes da sua vocação específica dentro da comunidade eclesial. Dentre
eles, merecem especial reconhecimento e louvor os leigos catequistas.27
Também os movimentos apostólicos e carismáticos são um dom do Espírito,
trazendo nova vida e vigor à formação de homens e mulheres leigos, de famílias
e de jovens.28 Associações e movimentos eclesiais, devotados à
promoção da dignidade humana e da justiça, tornam acessível e palpável a
universalidade da mensagem evangélica da nossa adoção como filhos de Deus
(cf. Rm 8, 15-16).
Ao mesmo tempo, há Igrejas que vivem em
circunstâncias muito difíceis, « passando por grandes provações na prática
da sua fé ».29 Os Padres Sinodais ficaram comovidos com as narrações
do testemunho heróico, perseverança inabalável e crescimento constante da
Igreja Católica na China, com os esforços feitos pela Igreja da Coréia do Sul
para prestar assistência ao povo da coréia do Norte, a firmeza humilde da
comunidade católica no vietnam, o isolamento de cristãos em muitos lugares do
Laos e de Myanmar, a difícil coexistência com a maioria nalguns Estados
predominantemente islâmicos.30 O Sínodo prestou uma especial atenção
à situação da Igreja na Terra Santa e na Cidade Santa de Jerusalém, « o
coração do cristianismo »,31 cidade amada por todos os filhos de
Abraão. Os Padres Sinodais exprimiram a convicção de que a paz na região, e
mesmo no mundo, depende em grande medida da paz e reconciliação que há tanto
tempo desapareceu de Jerusalém.32
Não posso dar por terminada esta análise da
situação da Igreja na Ásia, embora longe de ser completa, sem mencionar os
Santos e Mártires da Ásia — quer os que como tal foram reconhecidos, quer
aqueles que são conhecidos apenas de Deus —, cujo exemplo é uma fonte de «
riqueza espiritual e um grande instrumento de evangelização ».33
Falam, silenciosa mas vigorosamente, da importância da santidade de vida e da
prontidão em oferecer a própria vida pelo Evangelho. Eles são os mestres e protetores, a glória da Igreja da Ásia, no seu trabalho de evangelização.
Com a Igreja inteira, peço ao Senhor que envie muitos trabalhadores prontos
para ceifarem a messe de almas, que vejo já madura e abundante (cf. Mt
9, 37-38). Recordo, neste momento, o que escrevi na Encíclica Redemptoris
missio: « Deus abre à Igreja os horizontes duma humanidade mais preparada
para a sementeira evangélica ».34 Esta perspectiva de novos e
promissores horizontes, vejo-a desenhando-se na Ásia, onde Jesus nasceu e o
cristianismo começou.
CAPÍTULO II -
JESUS SALVADOR: UM DOM PARA A ÁSIA
O dom da fé
0. À medida que se ia desenrolando o debate
sinodal sobre as complexas realidades da Ásia, tornava-se sempre mais evidente
para todos que a única contribuição da Igreja para os habitantes do
continente é a proclamação de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
Homem, o mesmo e único Salvador para todos os povos.35 Aquilo que
distingue a Igreja de outras comunidades religiosas é a sua fé em Jesus
Cristo; e ela não pode esconder esta preciosa luz da fé debaixo do alqueire
(cf. Mt 5, 15), pelo que a sua missão é partilhar esta luz com todos. A
Igreja « quer oferecer a vida nova que encontrou em Jesus Cristo a todos os
povos da Ásia que procuram a plenitude de vida, a fim de que possam instaurar a
mesma comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo, no poder do Espírito
Santo ».36 Esta fé em Jesus Cristo é o que anima a ação evangelizadora da Igreja na Ásia, levada a cabo muitas vezes em circunstâncias
difíceis e até perigosas.
Os Padres Sinodais observaram que proclamar Jesus
como o único Salvador pode apresentar dificuldades particulares nas suas
culturas, uma vez que muitas religiões asiáticas ensinam suas próprias
manifestações divinas portadoras de salvação. Os desafios enfrentados nos
seus esforços evangelizadores, longe de desanimar os Padres Sinodais, foram um
incentivo ainda maior para se empenharem em transmitir « a fé que a Igreja da
Ásia herdou dos Apóstolos e partilha com a Igreja de todas as gerações e
lugares ».37 Com efeito, eles declararam-se convictos de que « o
coração da Igreja da Ásia permanecerá inquieto até quando a Ásia inteira
encontrar o seu repouso na paz de Cristo, o Senhor Ressuscitado ».38
A fé da Igreja em Jesus é um dom recebido,
e um dom que deve ser partilhado; é o maior dom que a Igreja pode oferecer à
Ásia. Partilhar a verdade de Jesus Cristo com os demais é dever sagrado de
todos os que receberam o dom da fé. Na Encíclica Redemptoris missio,
escrevi que « a Igreja, e nela cada cristão, não pode esconder nem guardar
para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada
a todos os homens ».39 Acrescentando logo a seguir: « Aqueles que
estão incorporados na Igreja Católica devem sentir-se privilegiados e, por
isso mesmo, mais comprometidos em testemunhar a fé e a vida cristã como
serviço aos irmãos e resposta devida a Deus ».40
Profundamente convencidos disto, os Padres
Sinodais sentiram-se igualmente conscientes da sua responsabilidade pessoal de
compreender, através do estudo, oração e reflexão, a verdade eterna de
Jesus, para levarem a sua força e vitalidade aos desafios atuais e futuros da
evangelização na Ásia.
Jesus Cristo, o Deus humanado que salva
1. As Escrituras atestam que Jesus viveu uma
existência autenticamente humana. Jesus, que proclamamos como o único
Salvador, caminhou sobre a terra como o Deus humanado, na posse plena da
natureza humana; era como nós em tudo, à exceção do pecado. Nascido duma
Virgem Mãe, nos arredores humildes de Belém, achou-Se sem recursos como outros
meninos, e até sofreu o destino de um refugiado, escapando à ira de um chefe
cruel (cf. Mt 2, 13-15). Viveu submisso a pais humanos, que nem sempre
entenderam as suas atitudes, mas confiou-Se a eles e obedeceu-lhes amorosamente
(cf. Lc 2,41-52). Constantemente em oração, Jesus viveu em íntima
relação com Deus, a Quem Se dirigia com a palavra Abba, « Pai », para
espanto dos seus ouvintes (cf. Jo 8, 34-59).
Aproximou-Se dos pobres, marginalizados e
humildes, dizendo que eram verdadeiramente bem-aventurados, pois Deus estava com
eles. Comeu com os pecadores, assegurando-lhes que há um lugar para eles à
mesa do Pai, quando se afastam dos seus maus caminhos e regressam a Ele. Tocando
os impuros e deixando que O tocassem, Jesus fez-lhes sentir a proximidade de
Deus. Chorou por um amigo morto, restituiu vivo o filho morto à sua mãe viúva,
declarou bem-vindas as crianças e lavou os pés aos seus discípulos. Nunca a
compaixão divina tinha sido acessível tão imediatamente.
O doente, o paralítico, o cego, o surdo e o
mudo, todos experimentaram cura e perdão ao tocá-Lo. Como seus companheiros e
colaboradores mais íntimos, Ele escolheu um grupo insólito no qual se
misturavam pescadores com cobradores de impostos, zelotas com pessoas ignorantes
da Lei, e mulheres também. Uma nova família se foi criando sob o amor
surpreendente do Pai que tudo abraça. Jesus pregou com simplicidade,
servindo-Se de exemplos da vida diária para falar do amor de Deus e do seu
Reino; e o povo reconheceu que Ele falou com autoridade.
Mas, foi acusado de ser blasfemo, um violador
da Lei sagrada, um estorvo público que devia ser eliminado. Depois de um
julgamento baseado em testemunhas falsas (cf. Mc 14, 15), foi condenado a
morrer como um criminoso na cruz e, abandonado e humilhado, pareceu um falhado.
Foi sepultado à pressa num túmulo emprestado. Mas no terceiro dia depois da
sua morte e apesar das guardas que estavam de vigia, o túmulo foi encontrado
vazio! Jesus, ressuscitado dos mortos, em seguida apareceu aos seus discípulos,
antes de voltar para o Pai, que O tinha enviado. Com todos os cristãos,
acreditamos que esta vida muito particular, num determinado sentido tão normal
e simples mas noutro completamente maravilhosa e tão envolvida em mistério,
introduziu na história humana o Reino de Deus e « aplicou o seu poder sobre
todas as facetas da vida e da sociedade humana, prisioneiras do pecado e da
morte ».41 Através das suas palavras e ações, especialmente pelo
seu sofrimento, morte e ressurreição, Jesus realizou o desígnio que o Pai
tinha de reconciliar consigo a humanidade, porque o pecado original tinha criado
uma ruptura no relacionamento entre o Criador e a sua criação. Na Cruz,
carregou sobre Si mesmo os pecados do mundo — passado, presente e futuro.
S.
Paulo recorda que estávamos mortos em conseqüência dos nossos pecados, mas a
sua morte devolveu-nos novamente à vida: Deus « vivificou-vos com Ele,
perdoando-vos todos os vossos pecados; cancelando a ata escrita contra nós,
cujas prescrições nos condenavam; aboliu-a inteiramente, cravando-a na Cruz »
(Cl 2, 13-14).
Assim, a salvação ficou concluída duma vez por todas. Jesus é o nosso Salvador
no sentido mais pleno da palavra, porque as suas palavras e obras, especialmente
a sua ressurreição dos mortos, revelaram que Ele é o Filho de Deus, o Verbo
preexistente que reina para sempre como Senhor e Messias.
A pessoa e missão do Filho de Deus
2. O « escândalo » do cristianismo é o
fato de acreditar que o Deus Santíssimo, Omnipotente e Onisciente assumiu
para Si próprio a nossa natureza humana, e suportou o sofrimento e a morte para
conquistar a salvação para todo o povo (cf. 1 Cor 1, 23). A fé que
recebemos ensina que Jesus Cristo revelou e cumpriu o plano que o Pai tinha de
salvar o mundo e a humanidade inteira, por causa « do que Ele é » e «
daquilo que Ele fez para ser o que é ». « O que Ele é » e « aquilo
que Ele fez » só adquire o seu significado pleno quando se coloca dentro
do mistério de Deus Uno e Trino.
Tem sido uma constante do meu pontificado
lembrar aos crentes a comunhão de vida da Santíssima Trindade e a unidade das
três Pessoas divinas no plano da criação e da redenção. As Encíclicas Redemptor
hominis, Dives in misericordia, e Dominum et vivificantem
debruçam-se sobre o Filho, o Pai e o Espírito Santo, respectivamente, e suas
funções no plano divino de salvação. Mas, não podemos isolar ou separar uma
Pessoa das outras, dado que cada uma delas Se revela apenas no âmbito da comunhão
de vida e ação da Trindade. A ação salvadora de Jesus tem a sua origem na
comunhão do Pai, e abre o caminho a todos os que acreditam n'Ele para entrarem
em comunhão íntima com a Trindade e, na Trindade, uns com os outros.
« Quem Me vê, vê o Pai », reclama Jesus (Jo
14, 9). Somente n'Ele habita corporalmente a plenitude da divindade (cf.
Cl
2, 9), constituindo-O como a única e absoluta Palavra salvadora de Deus (cf. Hb
1, 1-4). Enquanto Palavra definitiva do Pai, Jesus torna conhecido o mais
plenamente possível Deus e o seu desígnio salvador. « Ninguém vem ao Pai senão
por Mim », disse Jesus (Jo 14, 6). Ele é « o Caminho, a Verdade e a
Vida » ( Jo 14, 6), porque — como Ele mesmo explica — « o Pai que
está em Mim é que faz as obras » (Jo 14, 10). Só na pessoa de Jesus,
a palavra divina de salvação aparece em toda a sua plenitude, introduzindo nos
últimos tempos (cf. Hb 1, 1-2). Por isso, nos primeiros dias da Igreja,
Pedro pôde proclamar: « Não há salvação em nenhum outro, pois não há
debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar » (At
4, 12).
A missão do Salvador atingiu o seu ponto
culminante no Mistério Pascal. Na Cruz, ao « estender os braços entre o céu
e a terra, como sinal indelével da (...) aliança »,42 Jesus lançou
o seu apelo final pedindo ao Pai que perdoasse os pecados da humanidade: «
Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem » (Lc 23, 34). Jesus
destruiu o pecado em virtude do seu amor para com o Pai e a humanidade inteira.
Ele assumiu sobre Si próprio todas as feridas feitas à humanidade pelo pecado,
e ofereceu a libertação através da conversão. Os primeiros frutos disto são
evidentes na pessoa do ladrão arrependido, suspenso a seu lado noutra cruz (cf.
Lc 23, 43). A sua última expressão foi o grito do Filho fiel: « Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito » (Lc 23, 46).
Neste ato supremo de amor, Jesus confiou toda a sua vida e missão nas mãos do
Pai que O tinha enviado. Entregou assim ao Pai a criação inteira e toda a
humanidade, para ser finalmente recebida por Ele com amor compassivo.
Tudo o que o Filho é e realizou, foi aceite
pelo Pai, que ofereceu estes dons ao mundo no próprio momento em que
ressuscitou Jesus dos mortos e O sentou à sua mão direita, onde o pecado e a
morte já não têm qualquer poder. Com o Sacrifício Pascal de Jesus, o Pai
ofereceu irrevogavelmente reconciliação e vida em abundância ao mundo.
Este dom extraordinário só poderia vir através do seu Filho amado, o único
que era capaz de corresponder plenamente ao amor do Pai, recusado com o pecado.
Em Jesus Cristo, pelo poder do Espírito Santo, ficamos a saber que Deus não
Se encontra distante, nem acima, nem fora do homem, mas está muito perto, antes
unido a cada pessoa e à humanidade inteira em todas as situações da vida.
Esta é a mensagem que o cristianismo oferece ao mundo, sendo uma fonte de
consolação e esperança incomparável para todos os crentes.
Jesus Cristo: a verdade da humanidade
3. Como pode a humanidade de Jesus e o mistério
inefável da encarnação do Filho do eterno Pai iluminar a condição humana? O
Filho encarnado de Deus não só revela completamente o Pai e o seu plano de
salvação, mas também « revela plenamente o homem a si próprio ».43
As suas palavras e ações, e sobretudo a sua morte e ressurreição, revelam a
profundidade do que significa ser homem. Através de Jesus, o homem pode
finalmente conhecer a verdade acerca de si mesmo.
A vida perfeitamente humana de
Jesus, completamente devotada ao amor e serviço do Pai e do homem, revela que a
vocação de todo o ser humano é receber amor e, em troca, dar amor. Admiramos,
em Jesus, a capacidade inexaurível do coração humano para amar a Deus e o
homem, mesmo quando isso acarreta grande sofrimento. Mas sobretudo é na cruz
que Jesus quebra o poder da resistência auto-destruidora ao amor, que o pecado
nos impõe. Por sua vez, o Pai responde ressuscitando Jesus como o primogênito de todos os que estão predestinados a ser conformes à imagem do seu Filho (cf.
Rm 8,29). Naquele instante, Jesus tornou-Se de uma vez por todas
simultaneamente revelação e realização duma humanidade re-criada e renovada
de acordo com o plano de Deus. Assim em Jesus descobrimos a grandeza e a
dignidade de cada pessoa no coração de Deus, que criou o homem à sua própria
imagem (cf. Gn 1, 26),
e encontramos a origem da nova criação em que nos transformamos pela sua graça.
O Concílio Vaticano II ensinou que, « pela
sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem ».44
Nesta profunda intuição, os Padres Sinodais viram a suprema fonte de esperança
e força para o povo da Ásia, nas suas lutas e incertezas. Quando homens e
mulheres respondem com fé viva à oferta do amor de Deus, a sua presença gera
amor e paz, transformando o coração humano a partir de dentro. Na Encíclica Redemptor
hominis, escrevi que « a redenção do mundo — aquele tremendo mistério
de amor em que a criação foi renovada — é, na sua raiz mais profunda, a
plenitude da justiça num coração humano — o Coração do Filho primogênito
—, a fim de que ela possa tornar-se justiça dos corações de muitos homens,
os quais, precisamente no Filho primogênito, foram predestinados desde toda a
eternidade para se tornarem filhos de Deus e chamados à graça, chamados ao
amor ».45
Assim, a missão de Jesus não só restaurou
a comunhão entre Deus e a humanidade, mas estabeleceu também uma nova comunhão
entre os seres humanos, alienados uns dos outros por causa do pecado. Para além
de todas as divisões, Jesus dá às pessoas a possibilidade de viverem como irmãos
e irmãs, reconhecendo todos um único Pai, Aquele que está nos céus (cf. Mt
23,9). N'Ele,
surgiu uma nova harmonia, onde « não há judeu nem grego, não há servo nem livre,
não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus » (Gl 3, 28). Jesus é a nossa paz, « Ele que de dois
povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava » (Ef
2, 14). Em tudo o que disse e fez, Jesus foi a voz, as mãos e os braços do
Pai, congregando todos os filhos de Deus numa única família de amor. Rezou
para que os seus discípulos pudessem viver em comunhão, tal como Ele está em
comunhão com o Pai (cf. Jo 17, 11). Entre as suas últimas palavras, ouvimo-lo
dizer: « Como o Pai Me amou também Eu vos amei; permanecei no meu amor. (...)
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei » (Jo
15, 9.12). Enviado pelo Deus da comunhão, Jesus estabeleceu a comunhão entre o
céu e a terra em sua própria pessoa, visto que Ele é verdadeiramente Deus e
verdadeiramente homem. A fé diz-nos que « agradou a Deus que residisse n'Ele
toda a plenitude, e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas,
pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as da terra como as dos céus » (Cl
1,19-20). Deste modo, a salvação pôde fundar-se na pessoa do Filho de Deus
feito homem e na missão unicamente confiada a Ele enquanto Filho, uma missão
de serviço e de amor pela vida de todos. Juntamente com a Igreja espalhada pelo
mundo, a Igreja da Ásia proclama esta verdade de fé: « Há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo Homem, que Se deu em resgate por
todos » (1 Tm 2, 5-6).
O
caráter único e universal
da salvação de Jesus
4. Os Padres Sinodais reafirmaram que o
Verbo preexistente, o Filho de Deus gerado desde toda a eternidade, « já
estava presente na criação, na história e em cada anseio humano de bem ».46
Por meio do Verbo, presente no cosmo já antes da Encarnação, foi feito o
mundo (cf. Jo 1, 1-4.10; cl 1, 15-20). Mas enquanto Verbo
encarnado que viveu, morreu e ressuscitou dos mortos, Jesus Cristo é agora
proclamado como o cumprimento de toda a criação, de toda a história e de todo
o anseio humano de uma vida em abundância.47 Ressuscitado dos
mortos, Jesus Cristo « está unido, duma forma nova e misteriosa, a cada
elemento e ao conjunto da criação ».48 N'Ele, « encontram a sua
plenitude e realização os valores autênticos de todas as tradições
religiosas e culturais, tais como misericórdia e submissão à vontade de Deus,
compaixão e integridade, não-violência e justiça, piedade filial e harmonia
com a criação ».49 Desde o primeiro instante do tempo até ao seu
termo, Jesus é o único Mediador universal. Mesmo a todos aqueles que não
professam explicitamente a fé n'Ele como Salvador, também lhes chega a salvação
como uma graça de Jesus Cristo, através da comunicação do Espírito Santo.
Acreditamos que Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem, é o único Salvador, porque só Ele — o Filho —
realizou o plano universal de salvação do Pai. Enquanto manifestação
definitiva do mistério do amor do Pai por todos, Jesus é realmente único, e
« é precisamente esta singularidade única de Cristo que Lhe confere um
significado absoluto e universal, pelo qual, enquanto está na história, é o
centro e o fim da mesma história ».50
Não há indivíduo, nação ou cultura que
fique insensível ao apelo de Jesus, que fala verdadeiramente a partir do âmago
da condição humana. « É a sua própria vida que fala, a sua humanidade, a
sua fidelidade à verdade e o seu amor que a todos abraça. Fala, ainda, a sua
morte na cruz, isto é, a imperscrutável profundidade do seu sofrimento e do
seu abandono ».51 Contemplando Jesus na sua natureza humana, os
povos da Ásia encontram as suas questões mais profundas respondidas, as suas
esperanças realizadas, a sua dignidade exaltada, e o seu desespero vencido.
Jesus é a Boa Nova para os homens e mulheres de todo o tempo e lugar, que andam
à procura do significado da existência e da verdade da sua própria
humanidade.
CAPÍTULO III
O
ESPÍRITO SANTO: SENHOR QUE DÁ A
VIDA
O Espírito de Deus na criação e na
história
5. Se é verdade que o significado salvífico
de Jesus só pode ser compreendido no contexto da revelação que Ele fez do
plano de salvação da Trindade, conclui-se daí que o Espírito Santo é uma
parte absolutamente vital do mistério de Jesus e da salvação que Ele traz. Os
Padres Sinodais referiram-se freqüentemente ao papel do Espírito Santo na história
da salvação, fazendo notar que uma errada separação entre o Redentor e o Espírito
Santo meteria em risco a verdade de Jesus como o único Salvador de todos.
Na tradição cristã, o Espírito Santo
sempre esteve associado com a vida e com a doação da vida. O Símbolo
niceno-constantinopolitano chama ao Espírito Santo « Senhor que dá a vida ».
Por isso, não admira que muitas interpretações da narração da criação, no
Gênesis, tenham visto o Espírito Santo no vento impetuoso que soprava sobre as
águas (cf. Gn 1, 2). O Espírito Santo esteve presente desde o primeiro
instante da criação, a primeira manifestação do amor de Deus Uno e Trino, e
continua presente no mundo como força que lhe dá vida.52 Uma vez
que a criação é o princípio da história, o Espírito constitui, em
determinado sentido, um poder que atua secretamente na história, guiando-a
pelos caminhos da verdade e do bem.
A revelação da pessoa do Espírito Santo, o
amor recíproco entre o Pai e o Filho, é peculiar do Novo Testamento. No
pensamento cristão, Ele é visto como a nascente da vida para todas as
criaturas. A criação é uma livre comunicação de amor de Deus, pela qual, do
nada, fez existir todas as coisas. Nada há de criado, que não seja cumulado
daquele intercâmbio incessante de amor que caracteriza a vida mais íntima da
Trindade, isto é, cumulado do Espírito Santo: « O Espírito do Senhor enche o
universo » (Sb 1, 7).
A presença do Espírito na criação produz ordem, harmonia e recíproca dependência
entre tudo o que existe.
Criados à imagem de Deus, os homens
tornam-se morada do Espírito duma forma nova quando são elevados à dignidade
da adoção divina (cf. Gl 4,5).
Renascidos pelo batismo, experimentam a presença e o poder do Espírito, não
tanto como Autor da Vida, mas como Aquele que purifica e salva, produzindo
frutos de « caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, temperança » (Gl
5, 22-23). Estes frutos do Espírito são sinal de que « o amor de Deus foi
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi concedido » (Rm
5,5). Quando livremente aceite, este amor torna os homens e mulheres
instrumentos visíveis da atividade incessante do Espírito invisível. É
sobretudo esta nova capacidade de dar e receber amor que dá testemunho da
presença e força interior do Espírito Santo. Em conseqüência da transformação
e re-criação por Ele operada no coração das pessoas, o Espírito influencia
as sociedades e culturas humanas.53 « Com efeito, Ele está na base
dos ideais nobres e das iniciativas benfeitoras da humanidade peregrina:
com admirável providência, o Espírito de Deus dirige o curso dos tempos
e renova a face da terra ».54
Seguindo o exemplo do Concílio Vaticano II,
os Padres Sinodais chamaram a atenção para a ação múltipla e diversificada
do Espírito Santo, que continuamente espalha as sementes da verdade no meio de
todos os povos, das suas religiões, culturas e filosofias.55 Isto
significa que estas religiões, culturas e filosofias são capazes de ajudar as
pessoas, individual e coletivamente, a lutarem contra o mal e a servirem a vida
e tudo o mais que seja bom. As forças de morte isolam as pessoas, sociedades e
comunidades religiosas umas das outras, gerando suspeita e rivalidade que levam
ao conflito. O Espírito Santo, pelo contrário, sustenta as pessoas na sua
busca de entendimento e aceitação recíproca. Por isso, o Sínodo justamente
viu o Espírito de Deus como o principal agente do diálogo da Igreja com todos
os povos, culturas e religiões.
O Espírito Santo e a encarnação do
Verbo
6. Sob a guia do Espírito, a história da
salvação desenrola-se no palco do mundo, e mesmo no universo, de acordo com o
plano eterno do Pai. Este plano, iniciado pelo Espírito desde a origem mesma da
criação, foi revelado no Antigo Testamento e levado a cumprimento pela graça
de Jesus Cristo, e é continuado, na nova criação, pelo mesmo Espírito até
que o Senhor volte na glória, no final dos tempos.56 A encarnação
do Filho de Deus é a obra suprema do Espírito Santo: « A concepção e o
nascimento de Jesus Cristo são a obra maior realizada pelo Espírito Santo na
história da criação e da salvação: a graça suprema — a graça da
união — fonte de todas as outras graças ».57 A encarnação
é o acontecimento pelo qual Deus agregou a Si mesmo, em nova e definitiva união,
não apenas o homem mas também toda a criação e a história inteira.58
Tendo sido concebido no seio da Virgem Maria
pelo poder do Espírito Santo (cf. Lc 1, 35; Mt 1, 20), Jesus de
Nazaré, o Messias e o único Salvador, viveu cheio do Espírito Santo. Este
desceu sobre Ele no batismo (cf. Mc 1, 10) e conduziu-O ao deserto para
Se fortalecer antes do seu ministério público (cf. Mc 1, 12; Lc
4, 1; Mt 4, 1). Na sinagoga de Nazaré, deu início ao seu ministério
profético, aplicando a Si próprio a visão de Isaías onde se fala da unção
do Espírito que leva a pregar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos
e um ano de graça do Senhor (cf. Lc 4, 18-19). Pelo poder do Espírito,
Jesus curou os enfermos e expulsou os demônios, como sinal de que o Reino de
Deus tinha chegado (cf. Mt 12, 28). Depois de ressuscitar dos mortos, Ele
concedeu aos discípulos o Espírito Santo que tinha prometido enviar sobre a
Igreja quando voltasse para o Pai (cf. Jo 20, 22-23).
Tudo isto mostra como a missão salvífica de
Jesus apresenta a marca inconfundível da presença do Espírito: vida, vida
nova. Entre o envio do Filho pelo Pai e o envio do Espírito pelo
Pai e o Filho, existe uma ligação íntima e vital.59 A ação do
Espírito na criação e na história humana adquire cabalmente um novo
significado na ação realizada na vida e missão de Jesus. As « sementes do
Verbo » espalhadas pelo Espírito preparam a criação inteira, a história e o
homem para a plena maturação em Cristo.60
Os Padres Sinodais manifestaram a sua
preocupação pela tendência em separar a atividade do Espírito Santo da de
Jesus Salvador. Como resposta a tal preocupação, apraz-me repetir aqui o que
escrevi na Encíclica Redemptoris missio: O Espírito « não é de modo
algum uma alternativa a Cristo, nem vem preencher uma espécie de vazio, como
algumas vezes se sugere existir, entre Cristo e o Logos. Tudo quanto o
Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e
religiões, assume um papel de preparação evangélica, e não pode deixar de
referir-se a Cristo, Verbo feito carne pela ação do Espírito, a fim
de, como Homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular em Si todas as
coisas ».61
Por conseguinte, a presença universal do Espírito
Santo não pode servir como desculpa para deixar de proclamar explicitamente
Jesus Cristo como Salvador, o único Salvador. Pelo contrário, a presença
universal do Espírito é inseparável da salvação universal que temos em
Jesus. A presença do Espírito na criação e na história aponta para Jesus
Cristo, no Qual criação e história foram redimidas e plenificadas. A presença
e ação do Espírito, tanto antes da encarnação como no momento culminante
do Pentecostes, sempre aponta para Jesus e para a salvação que Ele trouxe. Do
mesmo modo, também a presença universal do Espírito Santo nunca pode ser
separada da sua atividade no âmbito do Corpo de Cristo, a Igreja.62
O Espírito Santo e o Corpo de Cristo
7. O Espírito Santo preserva infalivelmente
os laços de comunhão entre Jesus e a sua Igreja. Habitando na Igreja como num
templo (cf. 1 Cor 3, 16), o Espírito, antes de mais, guia-a para a
plenitude da verdade sobre Jesus. Depois, é o Espírito que dá poderes à
Igreja para continuar a missão de Jesus, em primeiro lugar dando testemunho do
próprio Jesus, realizando assim o que Ele tinha prometido antes da sua morte e
ressurreição, isto é, que enviaria o Espírito aos seus discípulos para
que pudessem dar testemunho d'Ele (cf. Jo 15, 26-27). Obra do Espírito
na Igreja é também o atestar que os crentes são filhos adotivos de Deus, que hão-de herdar a salvação, a desejada plenitude de comunhão com o Pai (cf. Rm
8, 15-17). Dotando a Igreja de diferentes carismas e dons, o Espírito fá-la
crescer em comunhão como um único corpo formado por muitos membros diversos
(cf. 1 Cor 12, 4; Ef 4, 11-16). O Espírito congrega na unidade
toda a variedade de pessoas, com seus diferentes costumes, recursos e talentos,
fazendo da Igreja um sinal da comunhão de toda a humanidade sob a chefia de
Cristo.63 O Espírito forma a Igreja como uma comunidade de
testemunhas, que, com o seu estímulo, dão testemunho de Jesus Salvador (cf.
At
1, 8). Neste sentido, o Espírito Santo é o primeiro agente da evangelização.
A partir disto, os Padres Sinodais chegariam a concluir que, tal como o ministério
terreno de Jesus foi realizado com a força do Espírito Santo, assim « o mesmo
Espírito foi dado à Igreja pelo Pai e o Filho no Pentecostes, para levar a
termo a missão de amor e serviço de Jesus na Ásia ».64
O plano do Pai para a salvação do homem não
terminou com a morte e ressurreição de Jesus. Pelo dom do Espírito de Cristo,
os frutos da sua missão salvadora foram oferecidos pela Igreja a todos os povos
de todos os tempos, através da proclamação do Evangelho e do serviço amoroso
à família humana. Como observa o Concílio Vaticano II, a Igreja « é
impelida pelo Espírito Santo a cooperar para que o desígnio de Deus, que fez
de Cristo o princípio de salvação para todo o mundo, se realize totalmente ».65
Fortalecida pelo Espírito para realizar a salvação de Cristo na terra, a
Igreja é a semente do Reino de Deus e suspira ardentemente pela sua vinda
final. A sua identidade e missão são inseparáveis do Reino de Deus, que Jesus
anunciou e inaugurou com tudo o que disse e fez, sobretudo com a sua morte e
ressurreição. O Espírito lembra à Igreja que não é fim em si mesma: em
tudo o que ela é e faz, existe para servir Cristo e a salvação do mundo. Na atual
economia da salvação, as atividades do Espírito Santo na criação,
na história e na Igreja são, todas elas, parte de um desígnio eterno da
Trindade sobre tudo o que existe.
O Espírito Santo e a missão da Igreja
na Ásia
8. O Espírito que Se movia sobre a Ásia no
tempo dos Patriarcas e dos profetas e, ainda mais vigorosamente, no tempo de
Jesus Cristo e da Igreja antiga, move-Se agora entre os cristãos asiáticos,
fortalecendo o testemunho da sua fé no meio dos povos, culturas e religiões do
Continente. Tal como o esplêndido diálogo de amor entre Deus e o homem foi
preparado pelo Espírito e realizado em terra asiática no mistério de Cristo,
assim também o diálogo entre o Salvador e os povos do Continente continua hoje
pelo poder do mesmo Espírito Santo, em ação na Igreja. Neste processo,
Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas têm todos um papel
essencial a desempenhar, recordando-se destas palavras de Jesus que são
simultaneamente uma promessa e um mandato: « Ides receber uma força, a do Espírito
Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por
toda a Judéia e Samaria, e até aos confins do mundo » (At 1, 8).
A Igreja está convencida de que, no mais íntimo
dos povos, culturas e religiões da Ásia, há sede de « água viva » (cf. Jo
4, 10-15), uma sede que o próprio Espírito criou e que só Jesus Salvador pode
saciar plenamente. A Igreja vê o Espírito Santo continuar a preparar os povos
da Ásia para o diálogo de salvação com o Salvador de todos. Guiada pelo Espírito
na sua missão de serviço e de amor, a Igreja pode proporcionar um encontro
entre Jesus Cristo e os povos da Ásia que suspiram pela vida em plenitude.
Somente neste encontro se funda a possibilidade de ter aquela água viva que
jorra para a vida eterna, nomeadamente o conhecimento do único Deus verdadeiro
e de Jesus Cristo que Ele enviou (cf. Jo 17, 3).
A Igreja bem sabe que só pode cumprir a sua
missão obedecendo às inspirações do Espírito Santo. Destinada a ser um
sinal e instrumento autêntico da ação do Espírito nas complexas realidades
da Ásia, ela deve discernir, nas mais diversas circunstâncias do Continente, o
apelo do Espírito para testemunhar, de forma nova e efetiva, Jesus Salvador. A
verdade plena de Jesus e a salvação por Ele alcançada são sempre um dom,
nunca o resultado do esforço humano. « O próprio Espírito atesta em união
com o nosso espírito que somos filhos de Deus; filhos e igualmente herdeiros,
herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo » (Rm 8, 16-17). Por isso, a
Igreja clama sem cessar: « Vinde, Espírito Santo; enchei os corações dos
vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor ». Este é o fogo que Jesus
lança sobre a terra. A Igreja da Ásia compartilha o seu ardente desejo de ver
este fogo ateado (cf. Lc 12, 49). Com tais sentimentos, os Padres Sinodais procuraram discernir as áreas principais de missão para a Igreja na
Ásia ao cruzar o limiar do novo milênio.
CAPÍTULO IV
JESUS
SALVADOR: O DOM A ANUNCIAR
A primazia do anúncio
9. Nas vésperas do Terceiro
milênio,
ressoa de novo no coração de cada cristão a voz de Cristo Ressuscitado: «
Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, e fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
e ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E Eu estarei sempre
convosco, até ao fim do mundo » (Mt 28, 18-20). Certos da ajuda
incessante do próprio Jesus e da presença e força do Espírito, os Apóstolos
saíram, imediatamente depois do Pentecostes, para cumprir tal mandato: « Eles,
partindo, foram pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles » (Mc
16, 20). Aquilo que anunciaram, pode resumir-se nestas palavras de S. Paulo: «
Não nos pregamos a nós próprios, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós não
somos senão vossos servos, por amor de Jesus » (2 Cor 4, 5).
Abençoada com o dom da fé, a Igreja continua, dois mil anos depois, a sair ao
encontro dos povos do mundo para partilhar com eles a Boa Nova de Jesus Cristo.
É uma comunidade ardente de zelo missionário, a fim de tornar Jesus conhecido,
amado e seguido.
Não pode haver verdadeira evangelização
sem o anúncio explícito de Jesus como Senhor. O Concílio Vaticano II e o
Magistério posterior, refutando certa confusão sobre a verdadeira natureza da
missão da Igreja, tem repetidamente sublinhado a primazia do anúncio de Jesus
Cristo em qualquer trabalho de evangelização. Neste sentido, o Papa Paulo VI
escreveu explicitamente que « não haverá nunca evangelização verdadeira se
o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré,
Filho de Deus, não forem anunciados ».66 Foi o que fizeram gerações
e gerações de cristãos, ao longo dos séculos. Com compreensível orgulho, os
Padres Sinodais recordaram como « muitas comunidades cristãs da Ásia
preservaram a sua fé, no decurso dos séculos, contra grandes controvérsias e
mantiveram a sua herança espiritual com heróica perseverança. Para elas,
partilhar este imenso tesouro é motivo de grande alegria e urgência ».67
Ao mesmo tempo os participantes na
assembléia Especial afirmaram repetidamente que é necessário um renovado compromisso em
prol da proclamação de Jesus Cristo, precisamente no Continente que conheceu o
início deste anúncio há dois mil anos. À vista de tanta gente da Ásia que
nunca se encontrou, de forma clara e consciente, com a pessoa de Jesus,
tornam-se ainda mais incisivas as seguintes palavras do apóstolo Paulo: « Todo
o que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em
quem não acreditaram? E como hão-de acreditar n'Aquele de que não ouviram
falar? E como ouvirão se ninguém lhes prega? » (Rm 10, 13-14). A
grande questão que a Igreja da Ásia tem agora pela frente é como
partilhar com os nossos irmãos e irmãs asiáticos o tesouro que possuímos
como um dom onde se encerram todos os dons, ou seja, a Boa Nova de Jesus Cristo?
Anunciar Jesus Cristo na Ásia
0. A Igreja na Ásia sente maior impaciência
na sua missão de levar este anúncio, ao pensar que « existe já, nas pessoas
e nos povos, pela ação do Espírito, uma ânsia — mesmo se inconsciente —
de conhecer a verdade acerca de Deus, do homem, do caminho que conduz à libertação
do pecado e da morte ».68 Esta insistência no anúncio não é
ditada por impulso sectário, nem espírito de proselitismo nem ainda qualquer
sentido de superioridade. A Igreja evangeliza por obediência ao mandato de
Cristo, na certeza de que toda a pessoa tem o direito de ouvir a Boa Nova de
Deus, que Se revela e dá em Cristo.69 Dar testemunho de Jesus Cristo
é o maior serviço que a Igreja pode oferecer aos povos da Ásia, porque é a
resposta ao seu anelo profundo de Absoluto, e desvenda as verdades e valores que
hão-de assegurar o seu desenvolvimento humano integral.
Bem ciente da complexidade das numerosas
situações da Ásia, tão diversificada, e « anunciando a verdade na caridade
» (cf. Ef 4, 15), a Igreja proclama a Boa Nova com amoroso respeito e
estima pelos seus ouvintes. Um anúncio, que respeite os direitos das consciências,
não viola a liberdade, já que a fé requer sempre uma resposta livre por parte
do indivíduo.70 Todavia, tal respeito não exclui a necessidade de
anunciar explicitamente o Evangelho em toda a sua amplitude. Há que sublinhar,
especialmente no contexto rico de culturas e religiões da Ásia, que « nem o
respeito e a estima para com essas religiões, nem a complexidade dos problemas
levantados são motivo para a Igreja calar, diante dos não cristãos, o anúncio
de Jesus Cristo ».71 Ao visitar a Índia em 1986, afirmei claramente
que « a aproximação da Igreja às outras religiões é ditada por autêntico
respeito. (...) Este respeito é duplo: respeito pelo homem na sua procura de
resposta às perguntas mais profundas da sua vida, e respeito pela ação do
Espírito no homem ».72 De fato, os Padres Sinodais reconheceram de
boa vontade, nas sociedades, culturas e religiões asiáticas, a ação do Espírito,
pela qual o Pai prepara os corações das pessoas para a plenitude de vida em
Cristo.73
Apesar disso, já durante as consultações
que precederam o Sínodo, muitos Bispos asiáticos referiram-se a dificuldades
no anúncio de Jesus como o único Salvador. No decurso da assembléia, a
situação foi descrita desta forma: « Alguns dos seguidores das grandes religiões
da Ásia não sentem problema em aceitar Jesus como uma manifestação da
Divindade ou do Absoluto, ou como um ser iluminado. Mas, é difícil
para eles vê-l'O como a única manifestação da Divindade ».74 De fato, o esforço por partilhar o dom da fé em Jesus como o único Salvador
apresenta-se carregado de dificuldades filosóficas, culturais e teológicas,
sobretudo à luz das crenças de grandes religiões da Ásia profundamente
permeadas por específicos valores culturais e visões do mundo.
Na opinião dos Padres Sinodais, a
dificuldade é criada pelo fato de Jesus ser muitas vezes considerado como
alheio à Ásia. É paradoxal que muitos asiáticos tendam a ver Jesus —
nascido no continente asiático — como uma figura ocidental em vez de asiática.
Era inevitável que o anúncio do Evangelho, feito por missionários ocidentais,
estivesse influenciado pelas culturas donde vieram. Os Padres Sinodais
reconheceram-no um fato sempre presente na história da evangelização,
aproveitando a ocasião para « testemunhar de modo muito especial o seu
agradecimento a todos os missionários — homens e mulheres, religiosos e
leigos, estrangeiros e autóctones — que lhes trouxeram a mensagem de Jesus
Cristo e o dom da fé. Uma palavra especial de gratidão deve ser expressa ainda
a todas as Igrejas particulares que enviaram e continuam a enviar missionários
para a Ásia ».75
Os evangelizadores podem tirar proveito da
experiência de S. Paulo que se empenhou em dialogar com os valores filosóficos,
culturais e religiosos dos seus ouvintes (cf. At 14, 13-17; 17, 22-31).
Mesmo os Concílios Ecumênicos, que formularam doutrinas vinculantes para toda
a Igreja, tiveram de lançar mão dos recursos lingüísticos, filosóficos e
culturais disponíveis. Assim, estes recursos tornaram-se um bem partilhado pela
Igreja inteira, capazes de exprimir a sua doutrina cristológica de modo
apropriado e universal. Fazem parte da herança de fé que deve ser assumida e
incessantemente partilhada no encontro com as várias culturas.76 Por
isso mesmo, a tarefa de anunciar Jesus de modo tal que permita aos povos asiáticos
identificarem-se com Ele, continuando eles fiéis simultaneamente à doutrina
teológica da Igreja e às suas próprias origens asiáticas, permanece o maior
desafio.
A apresentação de Jesus Cristo como o único
Salvador necessita de seguir uma pedagogia que introduza a pessoa passo a
passo até chegar à plena apropriação do mistério. Obviamente, a evangelização
inicial dos não cristãos e o anúncio posterior de Jesus aos crentes terá de
ser diferente na sua abordagem. No anúncio inicial, por exemplo, « a apresentação
de Jesus Cristo poderia aparecer como a realização dos desejos expressos nas
mitologias e tradições dos povos asiáticos ».77 Geralmente há
que preferir os métodos narrativos, mais parecidos com as formas culturais asiáticas.
Com efeito, o anúncio de Jesus Cristo pode fazer-se mais eficazmente narrando a
sua história, como fazem os Evangelhos. E o uso de termos ontológicos, que hão-de
ser sempre supostos e usados para se apresentar Jesus, pode ser contrabalançado
pelo uso de categorias mais relacionais, históricas e cósmicas. Como
observaram os Padres Sinodais, a Igreja deve permanecer aberta a novos e
imprevistos caminhos pelos quais o rosto de Jesus possa ser apresentado aos
habitantes da Ásia.78
O Sínodo recomendou que a catequese, etapa
posterior ao anúncio, devia seguir « uma pedagogia evocativa, usando narrações,
parábolas e símbolos, tão característicos da metodologia asiática no campo
do ensino ».79 O próprio ministério de Jesus mostra claramente o
valor do contacto pessoal, que exige ao evangelizador que tenha a peito a
situação do ouvinte, para lhe oferecer um anúncio adaptado ao seu nível de
maturidade e numa forma e linguagem apropriadas. Nesta perspectiva, os Padres
Sinodais sublinharam várias vezes a necessidade de um modo de evangelizar que
toque a sensibilidade das pessoas asiáticas, sugerindo algumas imagens de Jesus
que seriam inteligíveis para a mentalidade e as culturas asiáticas e, ao mesmo
tempo, fiéis à Sagrada Escritura e à Tradição. Contam-se entre elas «
Jesus Cristo como mestre de sabedoria, médico, libertador, guia espiritual, ser
iluminado, amigo compassivo do pobre, bom samaritano, bom pastor, ser obediente
».80 Jesus poderia ser apresentado como a Sabedoria encarnada de
Deus, cuja graça faz frutificar as « sementes » da Sabedoria divina já
presentes nas vidas, religiões e povos da Ásia.81 No meio de povos
asiáticos que vivem a braços com tantos sofrimentos, seria melhor proclamar
Jesus como o Salvador « que pode dar significado a quantos suportam penas e
sofrimentos sem sentido ».82
A fé que a Igreja oferece em dom aos seus
filhos e filhas asiáticos não se pode confinar dentro dos limites de compreensão
e expressão duma mera cultura humana, porque transcende tais limites e desafia
realmente todas as culturas a elevarem-se para novas luzes de compreensão e
expressão. Porém, ao mesmo tempo, os Padres Sinodais estavam cientes da
necessidade premente que as Igrejas locais da Ásia têm de apresentar o mistério
de Cristo às respectivas populações segundo os seus modelos culturais e
formas de pensamento. Eles puseram em destaque que uma tal inculturação da fé
no seu Continente implica redescobrir a fisionomia asiática de Jesus e
identificar os meios pelos quais estas culturas possam compreender o significado
salvífico universal do mistério de Jesus e da sua Igreja.83 O
profundo conhecimento dos povos e suas culturas, demonstrado por homens como João
de Montecorvino, Mateus Ricci e Roberto de Nobili, precisa de ser imitado no
tempo atual.
O desafio da inculturação
1. A cultura é o espaço vital onde a
pessoa humana se encontra face a face com o Evangelho. Se uma cultura é o
resultado da vida e atividade dum grupo humano, também as pessoas pertencentes
a este grupo são modeladas em larga medida pela cultura onde vivem. Dado que
pessoas e sociedade mudam, também a cultura muda com elas. Se uma cultura se
transforma, as pessoas e a sociedade são transformadas por ela. A partir desta
perspectiva, torna-se mais claro por que evangelização e inculturação
aparecem natural e intimamente ligadas uma com a outra. O Evangelho e a
evangelização não são certamente identificáveis com a cultura; são
independentes dela. Mas o Reino de Deus irrompe em pessoas que estão
profundamente ligadas a uma cultura, e a edificação do Reino não pode deixar
de servir-se de elementos das culturas humanas. Por isso, Paulo VI definiu a
ruptura entre o Evangelho e a cultura como o drama do nosso tempo, com um
impacto profundo tanto na evangelização como na cultura.84
Neste processo que leva a Igreja a
encontrar-se com as diversas culturas do mundo, ela não só transmite as suas
verdades e valores renovando intimamente as culturas, mas aproveita também das
várias culturas os elementos positivos que nelas se encontram já. Este é o
caminho obrigatório para os evangelizadores apresentarem a fé cristã e
tornarem-na parte da herança cultural de um povo. Inversamente, as diversas
culturas, quando purificadas e renovadas pela luz do Evangelho, podem tornar-se
verdadeiras expressões de fé cristã. « Por sua vez, a Igreja, com a
inculturação, torna-se um sinal mais transparente daquilo que realmente ela é,
e um instrumento mais apto para a missão ».85 Este compromisso com
as culturas esteve sempre presente na peregrinação da Igreja ao longo da história;
mas hoje reveste-se de uma urgência particular na situação pluriétnica,
plurirreligiosa e pluricultural da Ásia, onde o cristianismo muitas vezes é
visto ainda como religião estrangeira.
Neste momento, é bom lembrar a verdade
repetidamente afirmada durante o Sínodo de que o Espírito Santo é o primeiro
agente da inculturação da fé cristã na Ásia.86 O mesmo Espírito
Santo que nos guia para a verdade total, torna possível um diálogo frutuoso
com os valores culturais e religiosos dos diversos povos, no meio dos quais Ele
se encontra já em certa medida presente, dando aos homens e mulheres de coração
sincero a força para vencerem o mal e as insídias do maligno e oferecendo
realmente a todos, embora de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de
terem parte no Mistério Pascal.87 A presença do Espírito garante
que o diálogo se desenrole com verdade, lealdade, humildade e respeito.88
« Ao oferecer aos outros a Boa Nova da Redenção, a Igreja esforça-se por
compreender a sua cultura. Procura conhecer as mentalidades e os corações dos
seus ouvintes, os seus valores e costumes, os seus problemas e dificuldades, as
suas esperanças e sonhos. Uma vez que conhece e compreende estes vários
aspectos da cultura, então ela pode começar o diálogo da salvação; pode
oferecer, de modo respeitoso, com clareza e convicção, a Boa Nova da Redenção
a todos aqueles que livremente desejarem ouvir e responder ».89 Por
isso, o povo da Ásia, que deseja assumir a fé cristã segundo a sua maneira própria
de asiáticos, pode estar certo de que as suas esperanças, expectativas,
inquietações e sofrimentos não só são partilhadas por Jesus, mas tornam-se
verdadeiramente o ponto pelo qual o dom da fé e o poder do Espírito penetram
no âmago mais profundo das suas vidas.
Compete aos Pastores, em virtude do seu
carisma, conduzir este diálogo com discernimento. De igual modo, os peritos em
ciências sagradas e profanas têm um papel importante a desempenhar no processo
de inculturação. Mas, o processo deve envolver todo o Povo de Deus, já
que a vida da Igreja inteira deve mostrar exteriormente a fé que está a ser
anunciada e recebida. Para garantir que isso se verifique como convém, os
Padres Sinodais identificaram algumas áreas que merecem particular atenção:
reflexão teológica, liturgia, a formação de sacerdotes e religiosos,
catequese e espiritualidade.90
Áreas-chave de inculturação
2. O Sínodo encorajou os teólogos
no cumprimento do seu delicado trabalho de desenvolver uma teologia inculturada,
especialmente na área da cristologia.91 Lá foi observado que «
este trabalho teológico tem de ser realizado com coragem, fidelidade à Sagrada
Escritura e à Tradição da Igreja, sincera adesão ao Magistério e
conhecimento das realidades pastorais ».92 Desejo também incitar os
teólogos a trabalharem em espírito de união com os Pastores e o povo, que —
cada um em união com os outros, e nunca um separado dos outros — « reflete aquele sentido da fé, que é necessário nunca perder de vista ».93
O trabalho teológico deve procurar sempre respeitar a sensibilidade dos cristãos,
para que, graças a um crescimento gradual para formas inculturadas de exprimir
a fé, o povo nunca seja confundido nem escandalizado. Em todo o caso, a
inculturação há-de ser marcada pela compatibilidade com o Evangelho e a
comunhão com a fé da Igreja universal, em plena concordância com a Tradição
da Igreja e com o intuito de fortalecer a fé do povo.94 O teste de
uma inculturação verdadeira é verificar se o povo adere mais à sua fé cristã,
porque a vê melhor com os olhos da sua própria cultura.
A liturgia é a fonte e o vértice de
toda a vida e missão cristã.95 É decisivamente um meio de
evangelização, sobretudo na Ásia, onde os seguidores das diferentes religiões
são muito sensíveis ao culto, festas religiosas e devoções populares.96
Na sua maior parte, a liturgia das Igrejas Orientais tem sido inculturada com
bom êxito ao longo de séculos de interação com a cultura circundante, mas
as Igrejas de formação mais recente precisam de assegurar que a liturgia se
torne uma fonte ainda maior de nutrimento para os seus povos, através de um uso
claro e efetivo de elementos tirados das culturas locais. Mas, para a inculturação
litúrgica, não basta fixar a atenção sobre os valores, símbolos e rituais
da cultura tradicional; é preciso atender também às mudanças causadas na
consciência e nos comportamentos pelas culturas secularistas e consumistas
emergentes, que estão a afetar o sentido asiático do culto e da oração. Nem
se podem descuidar, numa inculturação litúrgica genuinamente asiática, as
necessidades específicas dos pobres, migrantes, refugiados, jovens e mulheres.
As Conferências Nacionais e Regionais dos
Bispos têm necessidade de trabalhar de forma mais estreita com a Congregação
do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos na busca de meios efetivos para
fomentar formas de culto apropriadas ao contexto asiático.97 Tal
cooperação é essencial porque a Liturgia Sagrada exprime e celebra a única fé
professada por todos e, sendo herança de toda a Igreja, não pode ser
determinada pelas Igrejas locais isoladamente da Igreja universal.
Os Padres Sinodais assinalaram de forma
particular a importância da palavra da Bíblia na transmissão da mensagem de
salvação aos povos da Ásia, porque neste Continente a palavra é muito
importante para a salvaguarda e comunicação da experiência religiosa.98
Daqui se deduz que é necessário desenvolver um efetivo apostolado bíblico a
fim de assegurar que o texto sagrado seja mais amplamente difundido e mais
intensa e devotamente usado entre os membros da Igreja da Ásia. Os Padres
Sinodais incitaram a fazer dela a base de todo o anúncio missionário,
catequese, pregação e gêneros de espiritualidade.99 Há
necessidade de estimular e apoiar iniciativas para traduzir a Bíblia para as línguas
locais. A formação bíblica deveria ser considerada um meio importante para
educar as pessoas na fé e habilitá-las para a tarefa do anúncio. Cursos sobre
a Bíblia, de orientação pastoral, com a devida ênfase na aplicação dos
seus ensinamentos às complexas realidades da vida asiática, devem ser
incorporados nos programas de formação para o clero, as pessoas de vida
consagrada e o laicato. 100 A Sagrada Escritura deveria ser dada a
conhecer também entre os seguidores doutras religiões; a Palavra de Deus
possui, inerente a si mesma, um poder que toca o coração das pessoas, visto
que, através das Escrituras, o Espírito Santo revela o plano de Deus para a
salvação do mundo. Além disso, o estilo narrativo presente em muitos livros
da Bíblia tem afinidades com os textos religiosos próprios da Ásia. 101
Outro aspecto-chave do processo de inculturação
é a formação dos evangelizadores, de que depende em grande parte o
futuro do mesmo. No passado, a formação seguiu freqüentemente o estilo, os métodos
e programas importados do Ocidente; os Padres Sinodais, ao mesmo tempo que
manifestavam o seu apreço pelo serviço prestado por este modo de formação,
reconheceram, como evolução positiva, os esforços que se têm feito
recentemente para adaptar a formação dos evangelizadores ao contexto cultural
da Ásia. Juntamente com um sólido fundamento nos estudos bíblicos e patrísticos,
os seminaristas deveriam adquirir uma detalhada e firme compreensão do patrimônio
teológico e filosófico da Igreja, como recomendei na Encíclica Fides et
ratio. 102 Tendo esta preparação por base, ser-lhes-á
proveitoso o contacto com as tradições filosóficas e religiosas asiáticas.
103 Os Padres Sinodais encorajaram também os professores e orientadores
dos Seminários a procurarem uma profunda compreensão dos elementos de
espiritualidade e oração próprios do continente asiático, e a
comprometerem-se mais profundamente na luta dos povos asiáticos por uma vida
mais abundante. 104 Tendo isso em vista, foi realçada a necessidade
de assegurar a formação apropriada dos orientadores dos Seminários. 105
O Sínodo falou também da formação das pessoas de vida consagrada, deixando
claro que a sua espiritualidade e estilo de vida há-de ser sensível à herança
religiosa e cultural da gente com quem vivem e a quem servem, sempre pressupondo
o necessário discernimento do que é, ou não, conforme ao Evangelho. 106
Além disso, visto que a inculturação do Evangelho envolve todo o povo de
Deus, o papel do laicato é de suprema importância. São sobretudo os leigos os
que são chamados a transformar a sociedade, em colaboração com os Bispos,
clero e religiosos, infundindo o « pensamento de Cristo » na mentalidade,
costumes, leis e estruturas do mundo secular onde vivem. 107 Uma
inculturação do Evangelho alargada a todos os níveis da sociedade asiática
dependerá imenso da formação adequada que as Igrejas locais poderem dar ao laicato.
Vida cristã como anúncio
3. Quanto mais a Comunidade cristã estiver
arraigada na experiência de Deus que brota duma fé viva, tanto mais será
capaz de anunciar credivelmente aos outros a realização do Reino de Deus em
Cristo. Isso será o resultado da escuta fiel da palavra de Deus, da oração e
contemplação, da celebração do mistério de Jesus nos sacramentos, sobretudo
na Eucaristia, e do exemplo dado de verdadeira comunhão de vida e integridade
de amor. O coração da Igreja particular deve permanecer fixo na contemplação
de Jesus Cristo, Deus feito homem, e esforçar-se constantemente por chegar a
uma união cada vez mais íntima com Ele, cuja missão ela continua. A missão
é ação contemplativa e contemplação ativa. Por isso, um missionário
que não possua uma profunda experiência de Deus na oração e na contemplação
terá pouca influência espiritual e reduzido sucesso missionário. Trata-se de
uma conclusão extraída do meu próprio ministério sacerdotal; e, como escrevi
noutro lugar, o meu contacto com representantes das tradições espirituais não
cristãs, de modo particular as da Ásia, veio confirmar a minha convicção de
que o futuro da missão depende em grande parte da contemplação. 108
Na Ásia, berço de grandes religiões onde indivíduos e mesmo populações
inteiras têm sede do Divino, a Igreja é chamada a ser uma comunidade orante,
profundamente espiritual, mesmo quando diretamente ocupada em assuntos humanos
e sociais. Todos os cristãos necessitam duma verdadeira espiritualidade missionária
feita de oração e contemplação.
Uma pessoa verdadeiramente religiosa ganha
prontamente respeito e aceitação na Ásia. É que a oração, o jejum e as várias
formas de ascetismo são tidas em grande estima; e a renúncia, o desapego, a
humildade, a simplicidade e o silêncio são considerados grandes valores pelos
seguidores de outras religiões. Para que a oração não apareça desunida da
promoção humana, os Padres Sinodais insistiram em que « as obras de justiça,
de caridade e de solidariedade façam parte duma autêntica vida de oração e
contemplação, e de fato só uma tal espiritualidade poderá ser a fonte boa
da nossa obra evangelizadora ». 109 Plenamente convictos da importância
de testemunhas autênticas para a evangelização da Ásia, os Padres Sinodais
declararam: « A Boa Nova de Jesus Cristo só pode ser proclamada por aqueles
que se deixarem conquistar e inspirar pelo amor do Pai a seus filhos,
manifestado na pessoa de Jesus Cristo. Este anúncio é uma missão que
necessita de homens e mulheres santos que desejam, através de suas vidas,
tornar conhecido e amado o Salvador. Um fogo só pode ser aceso por algo que já
esteja incendiado. Do mesmo modo, também só é possível realizar, na Ásia,
um frutuoso anúncio da Boa Nova da salvação, se Bispos, clero, pessoas de
vida consagrada e laicato estiverem, eles próprios, abrasados pelo amor de
Cristo e inflamados de zelo por tornarem-No mais largamente conhecido, mais
profundamente amado e mais intimamente imitado ». 110 Os cristãos
que falam de Cristo devem manifestar na vida a mensagem que proclamam.
A propósito disto, há uma circunstância
particular no contexto asiático que merece a nossa atenção: a Igreja sabe que
o testemunho silencioso de vida permanece ainda o único meio de
proclamar o Reino de Deus em muitos lugares da Ásia, onde é proibido o anúncio
explícito, e a liberdade religiosa é negada ou sistematicamente restringida. A
Igreja abraça conscientemente este tipo de testemunho, considerando-o como
parte da cruz que deve carregar (cf. Lc 9, 23), embora não cesse de
implorar e incitar os Governos a reconhecerem a liberdade religiosa como um
direito humano fundamental. Vale a pena repetir aqui as palavras do Concílio
Vaticano II: « A pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. Esta
liberdade consiste no seguinte: todos os homens devem estar livres de coação,
por parte quer dos indivíduos, quer dos grupos sociais ou de qualquer
autoridade humana; e de tal modo que, em matéria religiosa, ninguém seja forçado
a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma,
em privado e em público, só ou associado com outros, dentro dos devidos
limites ». 111 Em alguns países asiáticos, esta declaração tem
ainda de ser reconhecida e posta em prática.
É claro, portanto, que o anúncio de Jesus
Cristo na Ásia apresenta aspectos vários e complexos tanto no conteúdo como
no método. Os Padres Sinodais estavam bem cientes da legítima variedade de
modelos para o anúncio de Jesus, tomando providências para que a própria fé
seja respeitada em toda a sua integridade ao longo do processo da sua recepção
e partilha. O Sínodo observou que « a evangelização é, hoje, uma realidade
rica e dinâmica. Possui vários aspectos e elementos: testemunho, diálogo, anúncio,
catequese, conversão, batismo, inserção na comunidade eclesial, a implantação
da Igreja, inculturação e promoção humana integral. Alguns destes elementos
comparecem juntos, enquanto outros constituem fases sucessivas do processo
global de evangelização ». 112 Mas, em todo o trabalho de
evangelização há que anunciar a verdade completa de Jesus Cristo. Pôr
em destaque determinados aspectos do mistério inexaurível de Jesus é
simultaneamente legítimo e necessário para iniciar gradualmente uma pessoa no
conhecimento de Cristo, mas isso não deve levar a comprometer a integridade da
fé. No fim, a aceitação da fé por um indivíduo deve estar assente numa
compreensão segura da pessoa de Jesus Cristo, tal como é apresentada pela
Igreja em todo o tempo e lugar, o Senhor de todos, que é « o mesmo ontem, hoje
e por toda a eternidade » (Hb 13, 8).
CAPÍTULO V
COMUNHÃO
E DIÁLOGO AO SERVIÇO DA MISSÃO
Comunhão e missão, de mãos dadas
4. De acordo com o desígnio eterno do Pai,
a Igreja, que foi prefigurada desde o princípio do mundo, preparada na Antiga
Aliança, instituída por Jesus Cristo e apresentada ao mundo pelo Espírito
Santo no dia de Pentecostes, « prossegue a sua peregrinação no meio das
perseguições do mundo e das consolações de Deus », 113 enquanto
se esforça por chegar à sua perfeição na glória dos céus. Dado que Deus
deseja « que todo o gênero humano forme um só Povo de Deus, se una num só
corpo de Cristo, e se edifique num só templo do Espírito Santo », 114
a Igreja é, no mundo, « o plano visível do amor de Deus pela humanidade, o
sacramento da salvação ». 115 Por conseguinte, a Igreja não pode
ser entendida meramente como uma organização social ou uma agência humana de
assistência social. Apesar de incluir nela homens e mulheres pecadores, a
Igreja deve ser vista como o lugar privilegiado de encontro entre Deus e o
homem, onde Deus escolheu revelar o mistério da sua vida íntima e realizar o
seu plano de salvação do mundo.
O mistério do desígnio amoroso de Deus
torna-se presente e ativo na comunidade de homens e mulheres que, pelo batismo, foram sepultados com Cristo na morte, para que, como Cristo
ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim eles pudessem caminhar numa
vida nova (cf. Rm 6, 4). No âmago do mistério da Igreja, está o vínculo
de comunhão que une Cristo Esposo a todos os batizados. Por meio desta comunhão
viva e vivificante, « os cristãos deixam de pertencer a si mesmos, tornando-se
propriedade de Cristo ». 116 Unidos ao Filho pelo vínculo amoroso
do Espírito, os cristãos estão unidos ao Pai, e desta comunhão brota a
comunhão que eles partilham entre si por Cristo no Espírito Santo. 117
Assim, a primeira finalidade da Igreja é ser o sacramento da união íntima
da pessoa humana com Deus, e, porque a comunhão das pessoas entre si está
enraizada nesta união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade
da raça humana. 118 Na Igreja, esta unidade já começou; e ao
mesmo tempo ela é « sinal e instrumento » da plena realização da unidade
que há-de vir. 119
Uma exigência essencial da vida em Cristo é
frutificar, pelo que, quem entra em comunhão com o Senhor, supõe-se que
produza fruto: « Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto » (Jo
15, 5). Tanto é assim que a pessoa que não produz frutos, perde a comunhão:
« Toda a vara que em Mim não dá fruto, Ele [o Pai] corta-a » (Jo 15,
2). A comunhão com Jesus, que faz crescer a comunhão dos cristãos entre si,
é condição indispensável para produzir fruto; e a comunhão com os outros,
que é dom de Cristo e do seu Espírito, é o fruto mais esplêndido que os
ramos podem dar. Neste sentido, comunhão e missão estão inseparavelmente
ligadas entre si. Compenetram-se e integram-se mutuamente, ao ponto de « a
comunhão representar a fonte e, simultaneamente, o fruto da missão: a comunhão
é missionária e a missão é para a comunhão ». 120
Servindo-se da teologia de comunhão, o Concílio
Vaticano II pôde descrever a Igreja como o Povo peregrino de Deus com o qual
todos os povos estão de algum modo relacionados. 121 Baseados nisto,
os Padres Sinodais puseram em realce o vínculo misterioso que existe entre a
Igreja e os seguidores de outras religiões asiáticas, observando que eles estão
« relacionados com [a Igreja] segundo graus e modos diversos ». 122
No meio de povos, culturas e religiões tão diversos, « a vida da Igreja como
comunhão assume ainda maior importância ». 123 Com efeito, o serviço
da Igreja a favor da unidade tem uma relevância específica na Ásia, onde
existem muitas tensões, divisões e conflitos, provocados por diferenças étnicas,
sociais, culturais, lingüísticas, econômicas e religiosas. Num contexto assim,
as Igrejas locais da Ásia, em comunhão com o Sucessor de Pedro, têm
necessidade de fomentar uma maior comunhão de mente e coração, através duma
estreita colaboração entre elas próprias. De importância vital para a sua
missão evangelizadora, são também as suas relações com as outras Igrejas
Cristãs e Comunidades Eclesiais, e com os seguidores de outras religiões.
124 Por isso, o Sínodo renovou o compromisso da Igreja da Ásia na sua
missão de aperfeiçoar quer as relações ecumênicas quer o diálogo inter-religioso, reconhecendo que edificar a unidade, trabalhar pela reconciliação,
forjar laços de solidariedade, promover o diálogo entre religiões e culturas,
extirpar preconceitos e gerar confiança entre as pessoas pertence à essência
da missão evangelizadora da Igreja no Continente. Tudo isto exige, por parte da
Comunidade Católica, um sincero exame de consciência, a coragem para buscar a
reconciliação e um renovado compromisso a favor do diálogo. No limiar do
terceiro milênio, é evidente que a eficácia evangelizadora da Igreja exige
que ela se esforce cuidadosamente por servir a causa da unidade em todas as suas
dimensões. Comunhão e missão caminham de mãos dadas.
Comunhão dentro da Igreja
5. Reunidos em torno do Sucessor de Pedro,
rezando e trabalhando juntos, os Bispos participantes nesta assembléia Sinodal
Especial para a Ásia personificaram, por assim dizer, a comunhão eclesial em
toda a rica diversidade das Igrejas particulares a que presidem na caridade. A
minha presença nas Sessões Gerais do Sínodo foi uma feliz oportunidade de
partilhar as alegrias e esperanças, as dificuldades e ânsias dos Bispos, e ao
mesmo tempo um exercício, intensa e profundamente sentido, do meu próprio
ministério. De fato, é dentro da perspectiva da comunhão eclesial que a
autoridade do Sucessor de Pedro se evidencia mais claramente, não tanto nem
primariamente como poder jurídico sobre as Igrejas locais, como sobretudo uma
primazia pastoral ao serviço da unidade de fé e de vida de todo o Povo de
Deus. Bem cientes de que « o único ministério do Ofício Petrino é garantir
e fomentar a unidade da Igreja », 125 os Padres Sinodais agradeceram
o serviço que os Dicastérios da Cúria Romana e o serviço diplomático da
Santa Sé prestam às Igrejas locais, em espírito de comunhão e colegialidade.
126 Um aspecto essencial deste serviço é o respeito e sensibilidade que
estes colaboradores íntimos do Sucessor de Pedro mostram pela legítima
diversidade das Igrejas locais e pela variedade de culturas e povos com que estão
em contacto.
Cada Igreja particular
deve estar assente no testemunho de comunhão eclesial, que constitui a sua
verdadeira natureza como Igreja. Os Padres Sinodais optaram por descrever a
diocese como uma comunhão de comunidades reunidas à volta do Pastor,
onde clero, pessoas consagradas e laicato estão empenhados num « diálogo de
vida e coração », apoiado pela graça do Espírito Santo. 127 É
primariamente na diocese que a imagem duma comunhão de comunidades pode ser
concretizada no meio das complexas realidades sociais, políticas, religiosas,
culturais e econômicas da Ásia. A comunhão eclesial implica que cada Igreja
local se torne, segundo as palavras dos Padres Sinodais, uma « Igreja
participativa », isto é, uma Igreja onde todos vivam a sua própria vocação
e desempenhem a própria missão. Para se construir a « comunhão para a missão
» e a « missão de comunhão », é preciso reconhecer, dinamizar e pôr efetivamente
em prática os carismas específicos de cada membro. 128
De modo particular, há necessidade de encorajar um maior envolvimento do laicato
e das pessoas consagradas na planificação pastoral e nas decisões
tomadas através de estruturas de participação tais como Conselhos Pastorais e
assembléias Paroquiais. 129
Em cada diocese, a paróquia continua
a ser o lugar onde ordinariamente o fiel se reúne para crescer na fé, viver o
mistério da comunhão eclesial e tomar parte na missão da Igreja. Por isso, os
Padres Sinodais incitaram os Pastores a inventar meios novos e eficazes para
apascentarem os fiéis, para que assim todos, sobretudo os pobres, se sintam
verdadeiramente parte da paróquia e do conjunto do Povo de Deus. Planear a
pastoral com os fiéis leigos deveria ser uma característica normal de todas as
paróquias. 130 O Sínodo indicou de modo particular os jovens como
aqueles a quem « a paróquia deveria proporcionar maiores oportunidades de
amizade e comunhão (...) por meio de organizações de apostolado juvenil e
grupos de jovens ». 131 Ninguém deveria ser excluído a priori
de participar plenamente da vida e missão da paróquia, por causa da sua origem
social, econômica, política, cultural ou educativa. Da mesma forma que cada
discípulo de Cristo possui um dom para oferecer à comunidade, assim a
comunidade deveria colocar toda a sua boa vontade em receber e beneficiar do dom
de cada um.
Neste contexto e valendo-se da sua experiência
pastoral, os Padres Sinodais sublinharam o valor das comunidades eclesiais de
base, como meio eficaz para promover a comunhão e a participação nas paróquias
e dioceses, e como uma autêntica força de evangelização. 132
Estes grupos pequenos ajudam o fiel a viver em comunidades de fé, oração e
amizade semelhantes às dos primeiros cristãos (cf. At 2, 44-47; 4,
32-35). Visam ajudar os seus membros a viverem o Evangelho com espírito de amor
e serviço fraterno, sendo por isso mesmo um sólido ponto de partida para
construir uma nova sociedade, expressão de uma civilização do amor.
Com o Sínodo, eu encorajo a Igreja na Ásia, onde for possível, a encarar
estas comunidades de base como um aspecto positivo da atividade evangelizadora
da Igreja. No entanto, elas só serão verdadeiramente eficazes, se — como
escreveu o Papa Paulo VI — viverem em união com a Igreja particular e
universal, em comunhão sincera com os Pastores e o Magistério da Igreja,
comprometidas com a expansão missionária, sem cederem ao isolamento nem à
exploração ideológica. 133 A presença destas pequenas comunidades
não põe de lado as instituições e estruturas já existentes, que continuam a
ser necessárias para a Igreja realizar a sua missão.
O Sínodo reconheceu também o contributo dos
movimentos de renovação para a construção da comunhão, criando
oportunidades para uma experiência mais íntima de Deus, através da fé e dos
sacramentos, e fomentando a conversão da vida. 134 É
responsabilidade dos Pastores orientar, acompanhar e estimular estes grupos, de
maneira que estejam bem integrados na vida e missão da paróquia e da diocese.
Os elementos destas associações e movimentos ofereçam o seu apoio à Igreja
local e evitem de se apresentarem a si mesmos como alternativa das estruturas
diocesanas e da vida paroquial. A comunhão cresce mais vigorosamente, quando os
dirigentes locais destes movimentos trabalham juntamente com os Pastores, em espírito
de caridade, para o bem de todos (cf. 1 Cor 1, 13).
Solidariedade entre as Igrejas
6. Esta comunhão ad intra contribui
para a solidariedade entre as próprias Igrejas particulares. A
solicitude pelas necessidades locais é legítima e indispensável, mas a comunhão
exige que as Igrejas particulares permaneçam abertas umas às outras e
colaborem reciprocamente, de maneira que, na sua diversidade, saibam defender e
manifestar claramente o vínculo de comunhão com a Igreja universal. A comunhão
reclama mútuo entendimento e coordenação no planejamento da missão, sem prejuízo
da autonomia nem dos direitos das Igrejas segundo as suas respectivas tradições
teológicas, litúrgicas e espirituais. Contudo, a história mostra como as
divisões feriram às vezes a comunhão das Igrejas na Ásia. Ao longo dos séculos,
as relações entre Igrejas particulares com jurisdições eclesiásticas, tradições
litúrgicas e estilos missionários diferentes foram, por vezes, tensas e difíceis.
Os Bispos presentes no Sínodo reconheceram que ainda hoje, no interior de cada
uma e entre as Igrejas particulares da Ásia, existem às vezes lamentáveis
divisões, devidas freqüentemente a diferenças de ritual, língua, raça, casta
e ideologia. Algumas feridas foram parcialmente tratadas, mas não estão ainda
completamente curadas. Reconhecendo que, quando se debilita a comunhão, sofre o
testemunho da Igreja e o trabalho missionário, os Padres Sinodais propuseram
passos concretos para fortalecer as relações entre as Igrejas particulares da
Ásia. Assim como há necessidade de gestos espirituais de apoio e estímulo,
sugeriram uma distribuição mais eqüitativa de sacerdotes, uma solidariedade
financeira mais efetiva, intercâmbios culturais e teológicos, e oportunidades
sempre crescentes de consórcio entre dioceses. 135
As associações regionais e continentais de
Bispos, com destaque para o Conselho dos Patriarcas Católicos do Médio Oriente
e para a Federação das Conferências Episcopais da Ásia, têm ajudado a
fomentar a união entre as Igrejas locais e proporcionado encontros de cooperação
para se resolverem problemas pastorais. De igual modo, existem muitos centros de
teologia, espiritualidade e atividade pastoral, através da Ásia, que promovem
a comunhão e a cooperação prática. 136 Todos devem cuidar de que
estas promissoras iniciativas cresçam cada vez mais para bem tanto da Igreja
como da sociedade na Ásia.
As Igrejas Católicas Orientais
7. A situação das Igrejas Católicas
Orientais, sobretudo no Médio Oriente e na Índia, merece particular atenção.
Desde os tempos apostólicos, aquelas têm sido guardiães de uma preciosa herança
espiritual, litúrgica e teológica. As suas tradições e ritos, nascidos de
uma profunda inculturação da fé no território de muitos países asiáticos,
merecem o maior respeito. Com os Padres Sinodais, convido cada um a reconhecer
os legítimos costumes e a legítima liberdade destas Igrejas em matéria
disciplinar e litúrgica, como estipulado pelo Código dos Cânones das Igrejas
Orientais.137 Como ensina o Concílio Vaticano II, há urgente
necessidade de ultrapassar medos e equívocos que foram surgindo ao longo do
tempo quer nas Igrejas Católicas Orientais entre si, quer entre elas e a Igreja
Latina, especialmente no que diz respeito ao cuidado pastoral dos seus fiéis,
mesmo fora dos seus próprios territórios. 138 Como filhos duma única
Igreja, renascidos para a vida nova em Cristo, os crentes são chamados a
resolver tudo num espírito de união de objetivos, de confiança e de caridade
sem fim. Não se deve deixar que os conflitos criem divisão, mas, antes, sejam
tratados num espírito de confiança e respeito, visto que o bem não pode
brotar senão do amor. 139
Estas veneráveis Igrejas estão
diretamente empenhadas no diálogo ecumênico com as Igrejas Ortodoxas irmãs, e os Padres
Sinodais incitaram-nas a prosseguir nesse caminho. 140 Têm tido também
valiosas experiências de diálogo inter-religioso, especialmente com o
islamismo. Isto pode ser útil para as demais Igrejas na Ásia e noutras partes.
É claro que as Igrejas Orientais Católicas possuem uma grande riqueza de tradição
e experiência, que pode beneficiar imenso toda a Igreja.
Partilhando esperanças e sofrimentos
8. Os Padres Sinodais estavam cientes também
da necessidade duma efetiva comunhão e colaboração com as Igrejas locais
presentes nos territórios asiáticos da ex-União Soviética, que estão a
reconstruir-se no meio de penosas circunstâncias herdadas de um período difícil
da sua história. A Igreja acompanha-as na oração, compartilhando os seus
sofrimentos e recém-fundadas esperanças. Encorajo toda a Igreja a prestar
apoio moral, espiritual e material, e pessoal, ordenado ou não, necessário
para ajudar estas comunidades na sua missão de partilharem com os povos destas
terras o amor de Deus, revelado em Jesus Cristo. 141
Em muitas partes da Ásia, os nossos irmãos
e irmãs continuam a viver a sua fé no meio de restrições senão mesmo total
negação da liberdade. Os Padres Sinodais manifestaram especial preocupação e
solicitude por estes membros da Igreja que sofrem. Com os Bispos da Ásia,
exorto os nossos irmãos e irmãs destas Igrejas que vivem em condições difíceis
a juntarem os seus sofrimentos aos do Senhor crucificado, porque, nós e eles,
sabemos que só a cruz, quando suportada com fé e amor, é caminho de ressurreição
e de vida nova para a humanidade. Animo as diversas Conferências Episcopais da
Ásia a constituírem um serviço específico para ajudar estas Igrejas; e
prometo a continuação da solidariedade e interessamento da Santa Sé por todos
quantos sofrem perseguição pela sua fé em Cristo. 142 Faço apelo
aos Governos e dirigentes das Nações para que adotem e ponham em prática políticas
que garantam a liberdade religiosa para todos os seus cidadãos.
Em muitas ocasiões, os Padres Sinodais
voltaram o pensamento para a Igreja católica da China continental e rezaram
para que chegue brevemente o dia em que os nossos amados irmãos e irmãs
chineses possam livremente praticar a sua fé em plena comunhão com a Sé de
Pedro e a Igreja universal. A vós, queridos irmãos e irmãs chineses, faço
esta calorosa exortação: nunca deixeis que privação ou sofrimento algum
diminua a vossa devoção a Cristo ou a dedicação à vossa grande nação.
143 O Sínodo manifestou também cordial solidariedade à Igreja católica
da coréia e apoiou « os esforços feitos pelos católicos para dar assistência
ao povo da coréia do Norte, privado dos recursos mínimos de sobrevivência, e
provocar a reconciliação entre as duas parcelas de um único povo, com a mesma
língua e herança cultural ». 144
De igual modo, a reflexão sinodal fixou-se
com freqüência na Igreja de Jerusalém, que ocupa um lugar especial no coração
dos cristãos. De fato, no coração de milhões de crentes espalhados pelo
mundo, para quem Jerusalém constitui um lugar único e querido, encontram um
eco particular estas palavras de Isaías: « Alegrai-vos com Jerusalém,
regozijai-vos com ela, todos vós que a amais, (...) e saboreareis com delícia
a plenitude da sua glória » (66, 10.11). Jerusalém, cidade de reconciliação
dos homens com Deus e de uns com os outros, foi muitas vezes também um lugar de
conflito e divisão.
Os Padres Sinodais convidaram as Igrejas particulares a
permanecerem solidárias com a Igreja de Jerusalém, compartilhando as suas
tribulações, rezando por ela e colaborando com o seu serviço em prol da paz,
da justiça e da reconciliação entre os dois povos e as três religiões
presentes na Cidade Santa. 145 Renovo o apelo, que tenho feito muitas
vezes aos dirigentes políticos e religiosos e às pessoas de boa vontade, para
que busquem caminhos que assegurem a paz e a integridade de Jerusalém. Como
escrevi, é meu ardente desejo ir até lá em religiosa peregrinação, à
semelhança do meu predecessor Papa Paulo VI, para rezar na Cidade Santa, onde
Jesus Cristo viveu, morreu e ressuscitou, e visitar o lugar donde partiram os Apóstolos,
com o poder do Espírito Santo, para anunciar ao mundo o Evangelho de Jesus
Cristo. 146
Uma missão de diálogo
9. Os vários Sínodos « continentais »,
que têm ajudado a preparar a Igreja para o Grande Jubileu do Ano 2000, tiveram
como tema comum a nova evangelização. É essencial um novo tempo de anúncio
do Evangelho, não só porque, depois de dois mil anos, a maior parte da família
humana ainda não reconhece Cristo, mas também porque a situação em que a própria
Igreja e o mundo se encontram no limiar do novo milênio está particularmente
modificada quanto à crença religiosa e às verdades morais daí derivadas.
Quase por todo o lado, há tendência para se criar progresso e prosperidade sem
qualquer referimento a Deus e para reduzir a dimensão religiosa da pessoa
humana à esfera privada. Uma sociedade, privada da verdade mais basilar sobre o
homem, nomeadamente a sua relação com o Criador e com a redenção trazida por
Cristo no Espírito Santo, pode somente extraviar-se cada vez mais das
verdadeiras fontes da vida, do amor e da felicidade. Este século violento, que
caminha rapidamente para o seu termo, gerou terríveis testemunhos do que pode
acontecer quando a verdade e o bem são sacrificados à ambição do poder e da
fama. A nova evangelização, como um apelo à conversão, à graça e à
sabedoria, é a única esperança genuína para um mundo melhor e um futuro mais
risonho. A questão não é saber se a Igreja tem algo de essencial a dizer aos
homens e mulheres do nosso tempo, mas como será possível dizê-lo clara e
convictamente.
Quando decorria o Concílio Vaticano II, o
meu predecessor Papa Paulo VI declarou, na Encíclica Ecclesiam suam, que
a questão da relação entre a Igreja e o mundo moderno constituía uma das
preocupações mais importantes do nosso tempo. Escrevia ele que « a sua
realidade e urgência era tal que criou um peso na nossa alma, um estímulo, uma
chamada ».147 A partir do Concílio, a Igreja tem mostrado
constantemente que deseja prosseguir esta relação num espírito de diálogo.
Esta opção pelo diálogo, porém, não é uma mera estratégia para a coexistência
pacífica entre os povos; é uma parte essencial da missão da Igreja, porque
tem a sua origem no amoroso diálogo de salvação do Pai com a humanidade,
através do Filho no poder do Espírito Santo.
A Igreja só pode realizar a sua
missão por caminho igual àquele de que Deus Se serviu em Jesus Cristo: fez-Se
homem, partilhou a nossa vida humana e falou uma linguagem humana para comunicar
a sua mensagem salvífica. O diálogo que a Igreja propõe, fundamenta-se na lógica
da Encarnação. Por isso, apenas um amor zeloso e uma solidariedade
desinteressada move a Igreja no seu diálogo com os homens e mulheres da Ásia,
que procuram a verdade no amor.
Na sua qualidade de sacramento da unidade de
toda a humanidade, a Igreja não pode deixar de entrar em diálogo com todos os
povos, em todo o tempo e lugar. De acordo com a missão que recebeu, ela
aventura-se pelo mundo ao encontro dos vários povos, ciente de ser um «
pequenino rebanho » dentro da multidão imensa da humanidade (cf. Lc 12,
32), mas também de ser fermento na massa do mundo (cf. Mt
13, 33).
Os seus esforços em dialogar são dirigidos primeiramente àqueles que partilham a
sua fé em Jesus Cristo, Senhor e Salvador. Mas alargam-se, para além do mundo
cristão, aos seguidores de outras tradições religiosas, tendo por base os
anseios religiosos presentes em todo o coração humano. O diálogo ecumênico e o
diálogo inter-religioso constituem uma verdadeira vocação para a Igreja.
Diálogo
ecumênico
30. O
diálogo ecumênico é um desafio e um apelo à conversão lançado a toda a
Igreja, e de modo especial à Igreja da Ásia onde o povo espera dos cristãos
um sinal mais claro de unidade. Para todas as pessoas se reunirem sob a graça
de Deus, é necessário restabelecer a comunhão entre aqueles que, pela fé,
aceitaram Jesus Cristo como Senhor. Pediu-o o próprio Jesus, o Qual não cessa
de convocar os seus discípulos para a unidade visível, para que o mundo possa
acreditar que o Pai O enviou (cf. Jo 17, 21).148
Mas, a
vontade do Senhor de que a sua Igreja viva unida, aguarda ainda por uma resposta
completa e corajosa dos seus discípulos.
Precisamente
na Ásia, onde o número de cristãos é proporcionalmente pequeno, a divisão
torna o trabalho missionário ainda mais difícil. Os Padres Sinodais
confessaram que « o escândalo do cristianismo dividido é um grande obstáculo
para a evangelização da Ásia ». 149 De fato, a divisão entre os
cristãos é vista como um contra-testemunho de Jesus Cristo, sobretudo na Ásia
onde tantos buscam harmonia e unidade precisamente através das suas religiões
e culturas. Por isso, a Igreja católica da Ásia sente-se particularmente
impelida a trabalhar pela unidade com os outros cristãos, sabendo que a busca
da comunhão plena requer, de cada um, caridade, discernimento, coragem e
esperança. « O ecumenismo, para ser autêntico e frutuoso, exige, por parte
dos fiéis católicos, algumas disposições fundamentais: em primeiro lugar, a
caridade, para que transpareça nela simpatia e um desejo vivo de cooperar, onde
for possível, com os fiéis de outras Igrejas e Comunidades eclesiais; em
segundo lugar, a fidelidade à Igreja católica, sem ignorar nem negar as negligências
manifestadas pelo comportamento de alguns dos seus membros; em terceiro lugar, o
espírito de discernimento, para apreciar aquilo que é bom e digno de louvor;
por último, é pedida uma sincera vontade de purificação e de renovamento ».150
Ao
mesmo tempo que reconheciam as dificuldades ainda existentes nas relações
entre os cristãos, nas quais se incluem não só preconceitos herdados do
passado, mas também juízos radicados em profundas convicções que tocam na
consciência, 151 os Padres Sinodais indicaram também sinais de
melhores relações entre algumas Igrejas Cristãs e Comunidades Eclesiais da Ásia.
Os cristãos católicos e ortodoxos, por exemplo, reconhecem freqüentemente uma
unidade cultural entre eles, e a sensação de partilhar importantes elementos
duma tradição eclesial comum. Isto cria uma base sólida para continuar um diálogo
ecumênico frutuoso no próximo milênio, que, como esperamos e rezamos, há-de
pôr fim definitivamente às divisões do milênio que está para concluir.
A nível
prático, o Sínodo propôs que as Conferências Episcopais nacionais da Ásia
convidem outras Igrejas cristãs a tomar parte num processo, feito de oração e
deliberação, que sonde as possibilidades de novas estruturas e associações ecumênicas
para promover a unidade cristã. A sugestão sinodal de que a Semana de Oração
pela Unidade dos Cristãos seja frutuosamente celebrada, é proveitosa também.
Os Bispos foram animados a estabelecer e vigiar pelos centros de oração e diálogo;
e há necessidade de incluir, no currículo dos Seminários, casas de formação
e instituições educativas, uma adequada formação para o diálogo ecumênico.
Diálogo
inter-religioso
1. Na
Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, referi que a chegada do
novo milênio oferece uma grande oportunidade para o diálogo inter-religioso e
para encontros com os dirigentes das grandes religiões mundiais. 152
O contacto, diálogo e cooperação com os seguidores de outras religiões foi
um dever que o Concílio Vaticano II legou a toda a Igreja como uma obrigação
e um desafio. Os princípios desta busca de relações positivas com outras
tradições religiosas estão expostos na Declaração conciliar Nostra ætate,
promulgada no dia 28 de Outubro de 1965, a Carta Magna para o diálogo inter-religioso
do nosso tempo. Do ponto de vista cristão, o diálogo inter-religioso é mais
do que um simples meio para favorecer o conhecimento e enriquecimento mútuo; é
uma parte da missão evangelizadora da Igreja, uma expressão da missão ad
gentes.153 O que move os cristãos ao diálogo inter-religioso
é a firme convicção de que a plenitude da salvação vem apenas de Cristo, e
que a Igreja, comunidade à qual a mesma está entregue, é o meio ordinário
de salvação. 154 Repito aqui o que escrevi à V assembléia Plenária
da Federação das Conferências Episcopais da Ásia: « Ainda que a Igreja
reconheça de bom grado quanto há de verdadeiro e de santo nas tradições
religiosas do budismo, do hinduísmo e do islamismo, como reflexo daquela
verdade que ilumina todos os homens, isto não diminui o seu dever e determinação
de proclamar sem hesitações Jesus Cristo, que é o caminho, a verdade e
a vida (Jo 14, 6). (...) O fato de os seguidores de outras religiões
poderem receber a graça de Deus e ser salvos por Cristo, independentemente dos
meios ordinários por Ele estabelecidos, não cancela de maneira alguma o apelo
à fé e ao batismo, que Deus quer para todos os povos ». 155
No
processo de diálogo, como escrevi na Encíclica Redemptoris missio, « não
deve haver qualquer abdicação dos princípios, nem falso irenismo, mas o
testemunho recíproco em ordem a um progresso comum no caminho da procura e da
experiência religiosa, e simultaneamente em vista do superamento de
preconceitos, intolerâncias e mal-entendidos ». 156 Só pessoas
dotadas duma fé cristã matura e convicta é que são qualificadas para se
empenharem num diálogo inter-religioso autêntico. « Apenas cristãos imersos
profundamente no mistério de Cristo e felizes na sua comunidade de fé podem,
sem riscos indevidos e com esperança de bons frutos, comprometer-se no diálogo
inter-religioso ». 157 Por conseguinte, é importante que a Igreja
da Ásia proporcione modelos idôneos de diálogo inter-religioso — evangelização
em diálogo e diálogo para a evangelização — e conveniente instrução a
quantos nele estão envolvidos.
Depois
de sublinharem a necessidade de uma fé firme em Cristo para participar no diálogo
inter-religioso, os Padres Sinodais passaram a falar da necessidade de um diálogo
de vida e coração. Os discípulos de Cristo devem ter o coração manso e
humilde do seu Mestre, não orgulhoso nem arrogante, quando encontram os seus
interlocutores de diálogo (cf. Mt 11, 29). « As relações inter-religiosas
terão melhor êxito num contexto de sinceridade para com os outros crentes, de
prontidão em escutá-los e vontade de respeitar e compreender os outros nas
suas diferenças. Para tudo isto, é indispensável o amor aos outros. Daí
resultaria colaboração, harmonia e mútuo enriquecimento ». 158
Como
guia para quantos estão empenhados neste processo, o Sínodo sugeriu que fosse
redigido um Diretório para o diálogo inter-religioso.159 Visto que
a Igreja está sondando novos caminhos de encontro com as outras religiões,
apraz-me mencionar formas de diálogo já efetuadas com bons resultados: intercâmbio
de estudos entre peritos nas diversas tradições religiosas ou representantes
destas tradições, iniciativas comuns em prol do desenvolvimento humano
integral e em defesa dos valores humanos e religiosos. 160 Volto a
afirmar a grande importância que tem, para o processo de diálogo, a revitalização
da oração e da contemplação. Homens e mulheres de vida consagrada podem
contribuir real e significativamente para o diálogo inter-religioso, dando
testemunho do vigor das grandes tradições cristãs de ascetismo e misticismo.
161
O
memorável encontro, que teve lugar em Assis, a cidade de S. Francisco, no dia
27 de Outubro de 1986, entre a Igreja Católica e os representantes das outras
religiões mundiais demonstra que homens e mulheres religiosos, sem abandonarem
as suas próprias tradições, podem apesar disso comprometer-se a rezar e
trabalhar pela paz e o bem da humanidade. 162 A Igreja deve continuar
a esforçar-se por defender e fomentar, a todos os níveis, este espírito de
encontro e cooperação entre as religiões.
A
comunhão e o diálogo são dois aspectos essenciais da missão da Igreja, que
tem o seu modelo infinitamente transcendente no mistério da Santíssima
Trindade, da Qual provém e à Qual deve retornar toda a missão. Uma das
maiores prendas de aniversário, que os membros da Igreja, e de modo especial os
seus Pastores, podem oferecer ao Senhor da história nos dois mil anos da sua
Encarnação, é um reforço do espírito de unidade e comunhão, a todos
os níveis da vida eclesial, um renovado « santo orgulho » na fidelidade
perseverante da Igreja àquilo que tem sido transmitido, uma nova confiança na
graça e missão inalterável que a envia para o meio dos povos do mundo como
testemunha do amor e misericórdia salvífica de Deus. Só se o Povo de Deus
reconhecer o grande dom que possui em Cristo, é que será capaz de comunicar
tal dom aos outros através do anúncio e do diálogo.
CAPÍTULO VI
O SERVIÇO DE PROMOÇÃO HUMANA
A
doutrina social da Igreja
2. No
seu serviço à família humana, a Igreja estende a mão a todos os homens e
mulheres sem distinção, procurando construir com eles uma civilização de
amor, fundada sobre os valores universais da paz, da justiça, da solidariedade
e da liberdade, que encontram a sua plenitude em Cristo. Como disse, de forma
memorável, o Concílio Vaticano II, « as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos
aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo. E não há realidade alguma
verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração ». 163
A Igreja, no caso da Ásia com a sua multidão de pobres e oprimidos, é chamada
a viver uma comunhão de vida tal que a apresente particularmente comprometida
num serviço de amor aos pobres e abandonados.
Se,
nos tempos recentes, o Magistério da Igreja tem insistido cada vez mais na
necessidade de promover o desenvolvimento autêntico e integral da pessoa
humana, 164 fê-lo para dar resposta quer à situação real da
população mundial, quer à convicção crescente de que a hostilizarem o
bem-estar humano são muitas vezes, não propriamente ações de indivíduos,
mas as estruturas da vida social, política e econômica.
O desequilíbrio palpável
no fosso, sempre maior, entre aqueles que beneficiam da crescente capacidade
mundial de produzir riqueza e aqueles que são deixados à margem do progresso,
reclama uma mudança radical tanto da mentalidade como das estruturas a favor
da pessoa humana. O grande desafio moral, que se coloca às nações
e à comunidade internacional relativamente ao desenvolvimento, é ter a
coragem de uma nova solidariedade, capaz de dar passos engenhosos e eficazes
para vencer quer o subdesenvolvimento desumanizante, quer o «
sobredesenvolvimento » que tende a reduzir a pessoa a mera unidade econômica numa rede consumista sempre mais opressiva. Para provocar esta mudança, « a
Igreja não tem soluções técnicas para oferecer », mas « dá a sua primeira
contribuição para a solução do urgente problema do desenvolvimento, quando
proclama a verdade acerca de Cristo, de si mesma e do homem, aplicando-a a uma
situação concreta ». 165 Afinal de contas, o desenvolvimento
humano nunca é uma mera questão técnica e econômica; mas é fundamentalmente
uma questão humana e moral.
A
doutrina social da Igreja, que propõe um conjunto de princípios de reflexão,
critérios de discernimento e diretrizes de ação, 166 é dirigida
em primeiro lugar aos membros da Igreja. É essencial que o fiel, comprometido
na promoção humana, tenha domínio firme deste precioso corpo de doutrina e faça
dele parte integrante da sua missão evangelizadora. Por isso, os Padres
Sinodais realçaram a importância de proporcionar aos fiéis — em todas as atividades
educativas, e de modo especial nos Seminários e casas de formação
— uma sólida preparação em doutrina social da Igreja. 167
Os
dirigentes cristãos na Igreja e na sociedade, particularmente os leigos com
responsabilidades na vida pública, necessitam de estar bem formados nesta
doutrina, para que possam inspirar e vivificar a sociedade civil e as suas
estruturas com o fermento do Evangelho. 168 A doutrina social da
Igreja não pretende apenas alertar estes dirigentes cristãos para os seus
deveres, mas também dar-lhes orientações para a ação em favor do
desenvolvimento humano, e libertá-los de falsas noções da pessoa e atividade humana.
A
dignidade da pessoa humana
3. Os
primeiros agentes e destinatários do desenvolvimento são os seres humanos, não
a riqueza nem a tecnologia. Por isso, o gênero de desenvolvimento que a Igreja
promove, aponta para além das questões de economia e tecnologia. Principia e
termina na integridade da pessoa humana criada à imagem de Deus e dotada da
dignidade que Deus lhe deu e de direitos humanos inalienáveis. As várias
declarações internacionais sobre os direitos humanos e tantas iniciativas, que
os mesmos inspiraram, são sinal de uma crescente atenção mundial à dignidade
da pessoa humana. Infelizmente, tais declarações acabam muitas vezes por ser
violadas na prática. Cinqüenta anos depois da proclamação solene da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, muitas pessoas estão ainda sujeitas às formas
mais degradantes de exploração e manipulação, que as convertem em
verdadeiros escravos dos mais poderosos, sejam eles uma ideologia, um poder econômico,
um sistema político opressivo, uma tecnocracia científica ou a invadência dos
mass-media. 169
Os
Padres Sinodais estavam bem cientes da contínua violação dos direitos humanos
em muitas partes do mundo, e de modo particular na Ásia onde « largos milhões
de pessoas são vítimas de discriminação, exploração, pobreza e marginalização
». 170 Eles manifestaram a necessidade de todo o povo de Deus na Ásia
chegar a uma maior consciência do desafio inevitável e irrenunciável que é a
defesa dos direitos humanos e a promoção da justiça e da paz.
Amor
preferencial pelos pobres
4. Ao
procurar promover a dignidade humana, a Igreja mostra um amor preferencial pelos
pobres e marginalizados, porque o Senhor identificou-Se de forma especial com
eles (cf. Mt 25, 40). Este amor não exclui ninguém; simplesmente
individua uma prioridade de serviço, que goza do testemunho favorável de toda
a tradição da Igreja. « Este amor preferencial pelos pobres, com as decisões
que ele nos inspira, não pode deixar de abranger as imensas multidões de
famintos, de mendigos, sem-teto, sem assistência médica e, sobretudo, sem
esperança de um futuro melhor; não se pode deixar de ter em conta a existência
destas realidades.
Ignorá-las seria tornar-nos como o rico epulão,
que fingia não conhecer o pobre Lázaro que jazia ao seu portão (cf. Lc
16, 19-31) ». 171 Isto é particularmente verdade quando se pensa na
Ásia, um continente de abundantes recursos e grandes civilizações, mas onde
se encontram algumas das nações mais pobres da terra, e onde mais de metade da
população sofre privações, pobreza e exploração. 172 A melhor
razão que os pobres da Ásia e do mundo encontrarão para esperar, será sempre
o mandamento evangélico de nos amarmos uns aos outros como Cristo nos amou (cf.
Jo 13, 34);
e a Igreja da Ásia não pode deixar de cumprir seriamente, em palavras e obras,
este mandamento para com os pobres.
A
solidariedade com os pobres tornar-se-á mais crível, se os próprios cristãos
viverem de forma simples, seguindo o exemplo de Jesus. Simplicidade de vida, fé
profunda e sincero amor por todos, especialmente pelos pobres e marginalizados,
são sinais luminosos do Evangelho em ação. Os Padres Sinodais pediram aos
católicos asiáticos que adotem um estilo de vida coerente com a doutrina do
Evangelho, de maneira que possam cumprir melhor a sua missão eclesial, e a própria
Igreja se torne uma Igreja dos pobres e para os pobres. 173
No seu
amor pelos pobres da Ásia, a Igreja volta-se especialmente para os migrantes,
as populações indígenas e tribais, as mulheres e as crianças, visto que freqüentemente
são vítimas das piores formas de exploração. Também um número
incalculável de pessoas sofre discriminação por causa da sua cultura, cor, raça,
casta, situação econômica, ou modo de pensar. Entre eles, contam-se quantos são
maltratados por causa da sua conversão ao cristianismo. 174 Uno-me
ao apelo feito pelos Padres Sinodais a todas as nações para que reconheçam o
direito à liberdade de consciência e de religião e os restantes direitos
humanos básicos. 175
Atualmente
a Ásia está experimentando um fluxo sem precedentes de refugiados, pessoas em
busca de asilo, imigrantes e trabalhadores estrangeiros.
Nos países de chegada,
tais indivíduos sentem-se freqüentemente desamparados, alienados culturalmente,
lingüisticamente impreparados, e vulneráveis economicamente. Precisam de apoio
e cuidado para preservarem a própria dignidade humana e a sua herança cultural
e religiosa. 176 Apesar dos seus recursos limitados, a Igreja da Ásia
procura generosamente ser uma casa acolhedora para quantos se sentem cansados e
oprimidos, sabendo que eles, no Coração de Jesus onde ninguém é estrangeiro,
encontrarão repouso (cf. Mt 11, 28-29).
Em
quase todos os países asiáticos, há populações aborígines consideráveis,
algumas delas ocupando o ínfimo grau econômico. O Sínodo assinalou mais de
uma vez que freqüentemente as populações indígenas ou tribais se sentem atraídas
pela pessoa de Jesus Cristo e pela Igreja enquanto comunidade de amor e serviço.
177 Aqui jaz um imenso campo de ação, tanto no sector da educação e
da assistência sanitária como no âmbito da promoção e participação
social. A Comunidade católica precisa de intensificar a ação pastoral no
meio deles, prestando atenção aos seus interesses e às questões de justiça
que afetam a sua vida. Isto supõe uma atitude de profundo respeito pela sua
religião tradicional e seus valores; e inclui também a necessidade de ajudá-los
a ajudarem-se a si próprios, de maneira que possam eles mesmos trabalhar para
melhorar a sua situação e tornar-se evangelizadores da sua própria cultura e
sociedade. 178
Ninguém
pode ficar indiferente ao sofrimento de tantas crianças na Ásia, que caiem vítimas
de exploração e violência intoleráveis, não só devido a crimes praticados
por indivíduos, mas muitas vezes como conseqüência direta de estruturas
sociais perversas. Os Padres Sinodais identificaram o trabalho infantil, a
pedofilia e o fenômeno da droga como males sociais que mais diretamente afetam as crianças, deixando claro que são acompanhados por outros males,
como a pobreza, males esses concebidos como programas de desenvolvimento
nacional. 179 A Igreja deve fazer tudo o que puder para vencer estes
males, agir em favor dos explorados, e procurar conduzir os pequeninos ao amor
de Jesus, porque deles é o Reino de Deus (cf. Lc 18, 16). 180
O Sínodo
exprimiu particular preocupação pelas mulheres, cuja situação permanece um sério
problema na Ásia, onde a discriminação e a violência contra elas estão freqüentemente
instaladas em casa, no lugar de trabalho e mesmo no sistema
legal. O analfabetismo é muito mais generalizado entre as mulheres, e muitas são
tratadas como simples mercadoria usada na prostituição, turismo e agências de
divertimento. 181 No seu combate contra todas as formas de injustiça
e discriminação, as mulheres devem achar uma aliada na Comunidade cristã e,
por esta razão, o Sínodo propôs que as Igrejas locais da Ásia promovam, onde
for possível, os direitos humanos com iniciativas a favor da mulher. O objetivo
deve ser provocar uma mudança de atitude, através da própria
compreensão do papel do homem e da mulher na família, na sociedade e na
Igreja, por meio de uma maior consciência da original complementaridade entre o
homem e a mulher, e mediante uma maior valorização da dimensão feminina em
todas as realidades humanas.
A contribuição da mulher tem sido muitas vezes
depreciada ou ignorada, do que resultou um empobrecimento espiritual da
humanidade. A Igreja da Ásia quer defender, mais visível e eficazmente, a
dignidade e liberdade da mulher, valorizando o seu papel na vida da Igreja,
inclusive na sua vida intelectual, e criando também maiores oportunidades para
elas estarem presentes e ativas na missão de amor e serviço da Igreja.
182
O
Evangelho da vida
5. A
luta em prol do desenvolvimento humano começa pelo serviço a favor da própria
vida. A vida é o grande dom que Deus nos confiou: Ele confiou-no-la como um projeto
e uma responsabilidade. Por isso, nós somos os guardiães da vida, não
seus proprietários. Recebemos o dom livremente e, em atitude de gratidão, não
devemos jamais cessar de o respeitar e defender, desde o seu início até ao
termo natural. Desde o momento da concepção, a vida humana supõe a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa especial ligação com o Criador,
que é a fonte da vida e o seu único fim. Não há verdadeiro progresso, nem
sociedade civil autêntica, nem real promoção humana, sem o respeito pela vida
humana, especialmente pela vida daqueles que não têm voz para se defenderem a
si próprios. A vida de cada pessoa, quer a de uma criança no ventre de sua mãe,
quer a de alguém que está doente, é deficiente ou idoso, é um dom para
todos.
Os
Padres Sinodais reafirmaram, com cordial adesão, a doutrina acerca da
sacralidade da vida humana, ensinada pelo Concílio Vaticano II e pelo Magistério
posterior, nomeadamente a Encíclica Evangelium vitæ. Uno-me aqui ao
apelo que dirigiram aos fiéis dos seus países — onde freqüentemente a questão
demográfica é usada como argumento para a necessidade de introduzir o aborto e
programas de controle artificial da população —, para que se oponham à «
cultura de morte ». 183 Eles podem mostrar a sua fidelidade a Deus e
o seu compromisso com a verdadeira promoção humana, apoiando e participando em
programas que defendam a vida dos que são impotentes para se defenderem a si próprios.
Serviço
de saúde
6.
Seguindo os passos de Jesus Cristo, que teve compaixão de todos e curou «
todas as enfermidades e moléstias » (Mt 9, 35), a Igreja da Ásia está
decidida a empenhar-se cada vez mais no cuidado dos doentes, visto que este é
parte vital da missão que ela tem para oferecer a graça salvífica de Cristo a
todas as pessoas. Como o bom samaritano da parábola (cf. Lc 10, 29-37),
a Igreja deseja cuidar dos doentes e deficientes de modo concreto, 184
sobretudo nos lugares onde as pessoas estão privadas da assistência médica
elementar por causa da pobreza e marginalização.
Em
numerosas ocasiões durante as minhas visitas à Igreja nas várias partes do
mundo, fiquei profundamente impressionado pelo extraordinário testemunho cristão
dado por religiosos e pessoas consagradas, médicos, enfermeiros e outro pessoal
do serviço de saúde, especialmente aqueles que trabalham com os deficientes,
no âmbito dos cuidados terminais, ou lutam contra a difusão de novas doenças
como a SIDA. De forma sempre crescente, o pessoal que trabalha no serviço cristão
de saúde é chamado a ser generoso e altruísta para olhar pelas vítimas da
dependência da droga e da SIDA, que muitas vezes são desprezadas e abandonadas
pela sociedade. 185 Há muitas instituições médicas católicas na
Ásia, que estão a enfrentar pressões de políticas do serviço público de saúde
não baseadas em princípios cristãos, e muitas delas são sobrecarregadas por
exigências financeiras sempre maiores.
Apesar destes problemas, o altruísmo
exemplar e o devotado profissionalismo do pessoal aí empenhado permite
proporcionar um admirável e valioso serviço à comunidade e um sinal,
particularmente visível e eficaz, do amor inexaurível de Deus. O pessoal do
serviço de saúde deve ser estimulado e apoiado no bem que fazem. O seu
empenhamento e eficácia permanente são o meio melhor para assegurar a penetração
profunda dos valores e princípios cristãos nos sistemas de serviço de saúde
neste Continente, transformando-os a partir de dentro. 186
Educação
7.
Por toda a Ásia, o envolvimento da Igreja na educação é amplo e bem visível,
sendo, portanto, um elemento-chave da sua presença no meio dos povos do
continente. Em muitos países, as escolas católicas jogam um papel importante
na evangelização, inculturando a fé, ensinando hábitos de sinceridade e
respeito, e fomentando o entendimento inter-religioso. Muitas vezes as escolas da
Igreja oferecem as únicas oportunidades educativas para as meninas, as minorias
tribais, os pobres do campo e as crianças menos privilegiadas. Os Padres
Sinodais estavam persuadidos da necessidade de ampliar e desenvolver o
apostolado da educação na Ásia, com uma atenção particular aos mais
desfavorecidos, para que todos sejam ajudados a ocupar o seu justo lugar como
cidadãos de pleno direito na sociedade. 187 Como observaram os
Padres Sinodais, isto significa que o sistema de educação católica deve
orientar-se ainda mais nitidamente para a promoção humana, proporcionando um
ambiente onde os estudantes recebam não só os elementos formais de
escolaridade mas, mais amplamente, uma formação humana integral baseada nos
ensinamentos de Cristo. 188 As escolas católicas hão-de continuar a
ser lugares onde a fé possa ser livremente proposta e recebida. De igual modo,
as universidades católicas, para além de manterem a excelência acadêmica por
que são já bem conhecidas, devem conservar uma clara identidade cristã para
serem o fermento cristão na sociedade asiática. 189
Construção
da paz
8. No
final do século vinte, o mundo encontra-se ainda ameaçado por forças que
geram conflitos e guerras, e a Ásia não está por certo isenta delas. Entre
estas forças, contam-se a intolerância e a marginalização de qualquer espécie
que seja — social, cultural, política e mesmo religiosa. Dia a dia, novas
violências são infligidas a indivíduos e nações inteiras, estando esta
cultura de morte ligada com o recurso injustificado à violência como meio para
resolver as tensões. Frente à situação de terríveis conflitos em tantas
partes do mundo, a Igreja é chamada a empenhar-se profundamente nos esforços
internacionais e interreligiosos para se alcançar a paz, a justiça e a
reconciliação. Ela continua a insistir na resolução negociada e pacífica
dos conflitos, e aguarda o dia em que as nações deixarão de lado a guerra
como instrumento para fazer reivindicações ou meio para resolver divergências.
A Igreja está convencida de que a guerra cria mais problemas do que resolve,
que o diálogo é o único caminho justo e nobre para se chegar a acordo e à
reconciliação, e que a arte paciente e sábia de fazer a paz é
particularmente abençoada por Deus.
Particularmente
inquietante na Ásia, é a corrida contínua à aquisição de armas de destruição
de massa, uma despesa imoral e devastante em orçamentos nacionais que, nalguns
casos, ainda não consegue satisfazer as necessidades básicas da população.
Os Padres Sinodais falaram também do número imenso de minas semeadas em terra
asiática, que mutilaram ou mataram centenas de milhares de pessoas inocentes, e
ao mesmo tempo roubaram terra fértil que poderia, caso contrário, ser usada
para a produção de alimentos. 190 É responsabilidade de todos,
especialmente dos governantes das nações, trabalhar mais decididamente em prol
do desarmamento. O Sínodo pediu a interrupção do fabrico, venda e uso de
armas nucleares, químicas e biológicas, e exigiu que os responsáveis pela
colocação das minas prestem agora assistência no trabalho de bonificação
dos terrenos. 191 E, acima de tudo, os Padres Sinodais pediram a
Deus, o único a conhecer as profundezas de cada consciência humana, que
infunda sentimentos de paz no coração de quantos se sentem tentados a seguir o
caminho da violência, para que se realize a visão bíblica: « Das suas
espadas, [os povos] forjarão relhas de arados, e das suas lanças, foices. Uma
nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão
mais para a guerra » (Is 2, 4).
O Sínodo
ouviu muitos testemunhos relativos aos sofrimentos do povo do Iraque,
assegurando que muitos iraquianos, sobretudo crianças, morreram devido à falta
de remédios e de outros artigos básicos, por causa da continuação do
embargo. Com os Padres Sinodais, exprimo uma vez mais a minha solidariedade ao
povo do Iraque, e estou particularmente unido na oração e na esperança com os
filhos e filhas da Igreja naquele país. O Sínodo pediu a Deus para que
iluminasse as mentes e corações de quantos têm a responsabilidade de
encontrar uma justa solução para a crise, a fim de que, a um povo já
duramente provado, sejam poupados ulteriores sofrimentos e penas. 192
Globalização
9. Ao
considerarem a questão da promoção humana na Ásia, os Padres Sinodais
reconheceram a importância do processo de globalização econômica. Ao mesmo
tempo que reconheciam vários dos seus efeitos positivos, sublinharam que tem
contribuído também para prejudicar os pobres, 193 tendendo a
impelir os países mais pobres para a periferia das relações econômicas e políticas
internacionais. Muitas nações asiáticas não estão preparadas para se
integrarem numa economia global de mercado. E existe também o outro aspecto, de
certo modo mais significativo, que é a globalização cultural, que os atuais
meios de comunicação social tornaram possível e que está arrastando
rapidamente as sociedades asiáticas para uma cultura global consumista, que é
simultaneamente secularista e materialista.
O resultado é a corrosão da família
tradicional e dos valores sociais que serviram até agora de suporte a pessoas e
sociedades. Tudo isto põe em evidência que os aspectos éticos e morais da
globalização precisam de ser guiados mais diretamente pelos dirigentes
das nações e pelas organizações interessadas na promoção humana.
A
Igreja insiste na necessidade de « uma globalização sem marginalização ».
194 Com os Padres Sinodais, convido as Igrejas particulares de toda a
parte, e especialmente as dos países ocidentais, a trabalharem para assegurar
que a doutrina social da Igreja tenha o devido impacto sobre a formulação de
normas éticas e jurídicas que regulem o livre mercado mundial e os meios de
comunicação social. Os dirigentes e profissionais católicos pressionem os
Governos e as instituições de finanças e de comércio, para que reconheçam e
respeitem tais normas. 195
Dívida
externa
0. Além
disso a Igreja, na sua luta pela justiça num mundo marcado por desigualdades socioeconômicas,
não pode ignorar o pesado fardo da dívida contraída por muitas nações asiáticas
em vias de desenvolvimento, com o conseqüente impacto sobre o seu presente e
futuro. Em muitos casos, estes países são forçados a cortar as despesas para
necessidades vitais, como alimentação, saúde, habitação e educação, para
satisfazerem as suas dívidas a agências financeiras internacionais e bancos.
Isto significa que muitas pessoas estão condenadas a condições de vida que são
uma afronta à dignidade humana. Embora ciente da complexidade técnica desta
matéria, o Sínodo declarou que a sua resolução põe à prova a capacidade de
indivíduos, sociedades e Governos avaliarem a pessoa e as vidas de milhões de
seres humanos acima das considerações de vantagens financeiras e materiais.
196
A
aproximação do Grande Jubileu do Ano 2000 é um tempo oportuno para as Conferências
Episcopais de todo o mundo, especialmente as das nações mais ricas, incitarem
as agências financeiras internacionais e os bancos a individuarem meios que
melhorem esta situação da dívida internacional. Entre os mais óbvios deles,
aparecem a renegociação da dívida, com uma substancial redução ou puro e
simples cancelamento, e também contratos de empreendimentos e investimentos
para assistir as economias dos países mais pobres. 197 Ao mesmo
tempo, os Padres Sinodais dirigiram-se também aos países devedores,
salientando a necessidade de se desenvolver um sentido de responsabilidade
nacional, lembrando-lhes a importância de planear uma economia sólida e de uma
ação transparente e honesta de governo, e convidando-os a empenharem-se numa
decidida campanha contra a corrupção. 198 Eles apelaram aos cristãos
da Ásia para condenarem todas as formas de corrupção e apropriação indevida
de fundos públicos por aqueles que detêm o poder político. 199 Os
cidadãos dos países endividados foram muitas vezes vítimas de desperdício e
ineficácia na própria pátria, antes de caírem vítimas da dívida
internacional.
O meio ambiente
1.
Quando o interesse pelo progresso econômico e tecnológico não é acompanhado
de igual atenção pelo equilíbrio do ecossistema, a nossa terra fica
inevitavelmente sujeita a sérios danos ecológicos, com conseqüente dano para o
bem-estar dos homens. A falta flagrante de respeito pelo ambiente natural
persistirá enquanto a terra e suas potencialidades forem vistas meramente como objeto
de uso e consumo imediato, algo a ser manipulado pelo insaciável desejo
de lucro. 200 É obrigação dos cristãos e de quantos olham para
Deus como Criador proteger o meio ambiente, recuperando o sentido de veneração
por todas as criaturas de Deus. É vontade do Criador que o homem se ocupe da
natureza, não como um bárbaro explorador, mas como administrador inteligente e
responsável. 201 Os Padres Sinodais advogaram de maneira especial
uma maior responsabilidade por parte dos governantes das nações, legisladores,
empresários e todos os que estão diretamente envolvidos na administração
dos recursos da terra. 202 Eles sublinharam a necessidade de educar
as pessoas, especialmente os jovens, para a responsabilidade ambiental,
instruindo-as no cargo de administradores que Deus confiou à humanidade sobre a
criação. A proteção do meio ambiente não é só uma questão técnica,
mas também e sobretudo uma questão ética. Todos têm obrigação moral
de olhar pelo meio ambiente, não apenas para vantagem própria, mas também em
proveito das gerações futuras.
Ao
concluir estas reflexões, vale a pena recordar que os Padres Sinodais, ao
chamarem os cristãos para se comprometerem e sacrificarem ao serviço do
desenvolvimento humano, fizeram-no movidos por algumas das intuições mais
profundas da tradição bíblica e eclesiástica. O antigo Israel insistiu
apaixonadamente sobre o vínculo inquebrantável entre o culto de Deus e o
cuidado pelo débil, que a Sagrada Escritura, tipicamente, exemplifica como « a
viúva, o estrangeiro e o órfão » (cf. Ex 22, 21-22; Dt 10,18;
27,19), que eram, na sociedade de então, os mais vulneráveis à ameaça de
injustiça. Mais tarde, no tempo dos Profetas, ouvimos o grito pela justiça,
pela reta ordenação da sociedade humana, sem o que não pode haver verdadeiro
culto de Deus (cf. Is 1, 10-17; Am 5, 21-24).
Assim no apelo dos
Padres Sinodais, ouvimos um eco dos Profetas, que foram cheios do Espírito do
Senhor que deseja « misericórdia e não sacrifícios » (Os 6, 6).
Jesus fez suas estas palavras (cf. Mt 9, 13), e o mesmo se diga dos
Santos em todo o tempo e lugar. Considera estas palavras de S. João Crisóstomo:
« Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus
membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no
templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez.
Aquele que disse: Isto é o meu Corpo, confirmando o fato com a sua
palavra, também afirmou: Vistes-Me com fome e não Me destes de
comer (...). De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos
de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem
tem fome, e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra ». 203 No
apelo do Sínodo a favor do desenvolvimento humano e da justiça nas questões
humanas, ouve-se ressoar uma voz que é, simultaneamente, antiga e nova. É
antiga, porque surge das profundezas da nossa Tradição cristã, que aponta
para aquela harmonia profunda querida pelo Criador; é nova, porque toca a situação
imediata de tantos povos da Ásia atual.
CAPÍTULO
VII
TESTEMUNHAS
DO EVANGELHO
Uma
Igreja que testemunha
2. O
Concílio Vaticano II ensinou claramente que toda a Igreja é missionária, e
que o trabalho de evangelização é dever de todo o Povo de Deus. 204
Uma vez que o Povo de Deus como um todo é instado a pregar o Evangelho, a
evangelização nunca é um ato individual e isolado; é sempre uma tarefa
eclesial que necessita de ser levada a cabo em comunhão com toda a comunidade
de fé. A missão é una e indivisa, coincidindo a sua origem e o seu termo
final; mas, no seu âmbito, existem responsabilidades diversas e vários tipos
de atividade. 205 De qualquer modo, é claro que não pode haver
verdadeiro anúncio do Evangelho, a não ser que os cristãos ofereçam também
o testemunho de uma vida de acordo com a mensagem que pregam: « A primeira
forma de testemunho é a própria vida do missionário, da família cristã e da
comunidade eclesial, que torna visível um novo modo de se comportar. (...) Mas
todos na Igreja, esforçando-se por imitar o divino Mestre, podem e devem dar o
mesmo testemunho, que é, em muitos casos, o único modo possível de ser
missionário ». 206
Hoje de modo especial, há necessidade de um
genuíno testemunho cristão, porque « o homem contemporâneo acredita mais nas
testemunhas do que nos mestres, mais na experiência do que na doutrina, mais na
vida e nos fato do que nas teorias ». 207 Isto é certamente
verdade no contexto asiático, onde as pessoas se deixam persuadir mais pela
santidade de vida do que por argumentos intelectuais.
Assim, a experiência de fé
e dos dons do Espírito Santo torna-se a base de todo o trabalho missionário,
tanto nas cidades como nas aldeias, nas escolas ou nos hospitais, em contacto
com os deficientes, os migrantes ou os povos indígenas, ou na luta pela justiça
e pelos direitos humanos. Cada situação oferece ocasião para os cristãos
tornarem patente a força que a verdade de Cristo dá à sua vida. Por isso,
inspirada por muitos missionários que no passado deram heróico testemunho do
amor de Deus entre os povos do Continente, a Igreja na Ásia esforça-se agora
por testemunhar, com zelo não inferior, Jesus Cristo e o seu Evangelho. A missão
cristã o exige!
Conscientes
do caráter essencialmente missionário da Igreja e esperançados numa nova
efusão do dinamismo do Espírito Santo aquando da entrada da Igreja no novo milênio,
os Padres Sinodais pediram-me que esta Exortação Apostólica Pós-Sinodal
oferecesse algumas diretrizes e critérios para aqueles que labutam no vasto
campo da evangelização na Ásia.
Pastores
3. O
Espírito Santo é que torna a Igreja capaz de cumprir a missão que lhe foi
confiada por Cristo. Antes de enviar os discípulos como suas testemunhas, Jesus
deu-lhes o Espírito Santo (cf. Jo 20, 22), que operava através deles e
tocava o coração dos que os ouviam (cf. At 2, 37). O mesmo se pode
dizer daqueles que Jesus envia hoje. Num certo nível, todos os batizados, pela
graça do sacramento do Batismo, ficam incumbidos de tomar parte na missão
salvadora de Cristo, sendo habilitados para isso mesmo pelo amor de Deus que foi
derramado nos seus corações pelo Espírito Santo que lhes foi concedido (cf.
Rm
5, 5). A outro nível, porém, esta missão comum é realizada através de uma
variedade de funções e carismas específicos na Igreja.
A responsabilidade
principal pela missão da Igreja foi confiada por Cristo aos Apóstolos e seus
sucessores. Em virtude da Ordenação Episcopal e da comunhão hierárquica com
a Cabeça do Colégio Episcopal, os Bispos recebem o mandato e a autoridade para
ensinar, governar e santificar o Povo de Deus. Por vontade do próprio Cristo,
dentro do Colégio dos Bispos, o Sucessor de Pedro — a rocha sobre a qual a
Igreja está construída (cf. Mt 16, 18)
— exerce um ministério especial de unidade. Por isso, os Bispos hão-de cumprir o
seu ministério em união com o Sucessor de Pedro, garante da verdade dos seus
ensinamentos e da sua plena comunhão na Igreja.
Associados
aos Bispos no trabalho de proclamar o Evangelho, os presbíteros são chamados
pela Ordenação a serem pastores do rebanho, pregadores da Boa Nova da salvação
e ministros dos sacramentos. Para servirem a Igreja como Cristo quer, os Bispos
e os presbíteros necessitam de uma formação sólida e contínua, que lhes
proporcione ocasiões para uma renovação humana, espiritual e pastoral, tais
como cursos de teologia, de espiritualidade e de ciências humanas. 208
Os povos da Ásia precisam de ver os clérigos, não simplesmente como obreiros
da caridade e administradores institucionalizados, mas como homens cuja mente e
coração se encontram fixos nas coisas profundas do Espírito (cf. Rm 8,
5). O respeito que os povos asiáticos têm por quantos estão constituídos em
autoridade, há-de ser correspondido por uma clara retidão moral por parte
daqueles que possuem responsabilidades ministeriais na Igreja. Pela sua vida de
oração, zeloso serviço e estilo de vida exemplar, os clérigos testemunham
vigorosamente o Evangelho nas comunidades que pastoreiam em nome de Cristo. Peço
encarecidamente que os Ministros Ordenados das Igrejas na Ásia vivam e
trabalhem em espírito de comunhão e colaboração com os Bispos e todos os fiéis,
dando testemunho do amor que Jesus afirmou ser o verdadeiro sinal dos seus discípulos
(cf. Jo 13, 35).
De
modo especial, desejo sublinhar a preocupação do Sínodo quanto à preparação
dos que dirigem e ensinam nos Seminários e nas Faculdades de Teologia. 209
Depois de uma completa preparação nas ciências sagradas e matérias
relacionadas, deveriam receber uma formação específica que focasse a
espiritualidade sacerdotal, a arte da direção espiritual e outros aspectos da
difícil e delicada tarefa que os espera na educação dos futuros sacerdotes.
Trata-se de um apostolado de forma nenhuma secundário para o bem-estar e a
vitalidade da Igreja.
A
vida consagrada e as Sociedades Missionárias
4. Na
Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata, pus em destaque a
conexão íntima entre vida consagrada e missão. No seu tríplice aspecto de confessio
Trinitatis, signum fraternitatis e servitium caritatis, a vida
consagrada evidencia o amor de Deus no mundo, pelo testemunho específico da
missão salvadora que Jesus cumpriu com a sua consagração total ao Pai. Ao
reconhecer que toda a ação na Igreja se apóia na oração e na comunhão com
Deus, a Igreja na Ásia vê com profundo respeito e apreço as comunidades
religiosas contemplativas como fonte especial de força e inspiração. Na linha
das recomendações do Padres Sinodais, desejo encorajar fortemente a constituição,
onde for possível, de comunidades monásticas e contemplativas. Deste modo,
como nos lembra o Concílio Vaticano II, a obra de edificação da cidade
terrena terá o seu fundamento no Senhor e para Ele se orientará; caso contrário,
os construtores trabalhariam em vão. 210
A
busca de Deus, a vida de comunhão e o serviço aos outros são as três
características principais da vida consagrada, que pode oferecer um testemunho
cristão atraente aos povos da Ásia atual. A Assembléia Especial para a Ásia
incitou as pessoas de vida consagrada a serem testemunhas da vocação universal
à santidade, tornando-se, tanto para os cristãos como para os não cristãos,
um exemplo inspirador de doação amorosa a todos, de modo especial aos mais
pequenos dos seus irmãos e irmãs. Num mundo onde freqüentemente fica ofuscado
o sentido da presença de Deus, as pessoas consagradas hão-de dar um testemunho
profético convicto da primazia de Deus e da vida eterna. Vivendo em comunidade,
dão testemunho dos valores da fraternidade cristã e da força transformadora
da Boa Nova. 211 Todos os que abraçaram a vida consagrada são
chamados a tornar-se guias na busca de Deus, busca essa que sempre atormentou o
coração humano e que é particularmente visível em muitas formas de
espiritualidade e de ascetismo da Ásia. 212
De fato, em muitas
tradições religiosas da Ásia, os homens e mulheres votados à vida
contemplativa e ascética gozam de grande respeito e o seu testemunho tem uma
força persuasiva especial; a sua existência, vivida em comunidade e irradiando
um testemunho pacífico e silencioso, pode inspirar as pessoas a trabalharem por
uma maior harmonia na sociedade. O mesmo se espera dos homens e mulheres
consagrados na tradição cristã. O seu exemplo silencioso de pobreza e abnegação,
de pureza e sinceridade, de imolação na obediência pode tornar-se um
testemunho eloqüente capaz de tocar as pessoas de boa vontade e conduzir a um diálogo
frutuoso com as culturas e religiões circundantes, e com os pobres e indefesos.
Isto faz da vida consagrada um meio privilegiado para uma evangelização
eficaz. 213
Os
Padres Sinodais reconheceram o papel vital que as Ordens e Congregações
religiosas, e os Institutos Missionários e as Sociedades de Vida Apostólica
desempenharam, ao longo dos séculos passados, na evangelização da Ásia. Por
esta estupenda contribuição, o Sínodo manifestou-lhes a gratidão da Igreja,
incitando-os a não desfalecerem no seu empenho missionário. 214
Uno-me aos Padres Sinodais neste convite feito aos consagrados para revigorarem
o seu zelo de proclamar a verdade salvadora de Cristo. Todos hão-de ter uma
adequada formação e preparação, que deverá estar centrada em Cristo e ser
fiel ao seu carisma fundacional, com particular destaque para a santidade e
testemunho pessoal; a sua espiritualidade e estilo de vida deveriam ser sensíveis
à herança religiosa das pessoas com quem vivem e a quem servem. 215
Quanto ao seu carisma específico, deveriam integrar-se no plano pastoral da
diocese onde trabalham. Por sua vez, as Igrejas locais devem estimular a consciência
do ideal de vida religiosa e consagrada, promovendo tais vocações. Isto exige
que cada diocese prepare um programa pastoral para as vocações, destinando até
alguns padres e religiosos para trabalharem a tempo inteiro com a juventude, a
fim de ajudar os jovens a escutar e discernir o chamamento de Deus. 216
No âmbito
da comunhão da Igreja universal, não posso deixar de apelar à Igreja da Ásia
para enviar alhures missionários, apesar de ela mesma necessitar de operários
na sua vinha. Alegra-me constatar que têm sido recentemente fundados, em vários
países asiáticos, Institutos missionários de Vida Apostólica, como expressão
do caráter missionário da Igreja e da responsabilidade que têm as Igrejas
particulares da Ásia de pregar o Evangelho por todo o mundo. 217
Os
Padres Sinodais recomendaram « a constituição dentro de cada Igreja local da
Ásia, se tal ainda não existir, de Sociedades Missionárias de Vida Apostólica,
caracterizadas pelo seu compromisso especial para com a missão ad gentes, ad
exteros e ad vitam ». 218 Certamente uma tal iniciativa
dará abundantes frutos, não só nas Igrejas que recebem missionários, mas
também naquelas que os enviam.
O
laicato
5.
Como foi claramente indicado pelo Concílio Vaticano II, a vocação dos leigos
situa-os no mundo, onde realizam as mais diversas tarefas, para aí difundirem o
Evangelho de Jesus Cristo. 219
Por graça e missão recebida no batismo
e na Confirmação, todos os leigos são missionários; o campo do seu
trabalho missionário é o vasto e complexo mundo da política, da economia, da
indústria, da educação, dos meios de comunicação social, da ciência, da
tecnologia, das artes e do desporto. Em muitos países asiáticos, os leigos
comportam-se como verdadeiros missionários, atingindo milhões de compatriotas
asiáticos, que nunca tiveram contacto com os sacerdotes ou os religiosos.
220 Desejo exprimir-lhes a gratidão da Igreja inteira, e encorajar todos
os leigos a assumirem o seu papel específico, na vida e missão do Povo de
Deus, como testemunhas de Cristo onde quer que estejam.
Cabe
aos Pastores garantir que os fiéis leigos sejam formados como evangelizadores
capazes de enfrentar os desafios do mundo atual, não com a sabedoria e eficácia
própria do mundo, mas com um coração renovado e robustecido com a verdade de
Cristo. 221 Dando testemunho do Evangelho nos vários sectores da
vida social, eles podem desempenhar um papel único no combate contra a injustiça
e a opressão; e também para isso devem ser preparados adequadamente. Com tal
finalidade, uno-me de boa vontade à proposta dos Padres Sinodais para se
constituírem, a nível diocesano ou nacional, centros de formação para leigos
que hão-de prepará-los para o seu trabalho missionário como testemunhas de
Cristo na Ásia de hoje. 222
Os
Padres Sinodais manifestaram grande desejo de que a Igreja seja cada vez mais
participativa e aberta, de modo que ninguém se sinta excluído, e concluíram
que há uma necessidade particularmente urgente de uma participação mais ampla
da mulher na vida e missão da Igreja na Ásia. « A mulher tem uma aptidão
muito particular para transmitir a fé, de maneira que Jesus mesmo recorreu a
ela para a evangelização. Assim acontece com a Samaritana, com quem Jesus Se
encontra junto do poço de Jacob, escolhendo-a para a primeira
expansão da nova fé em território não judaico ». 223 Para
valorizar o seu serviço na Igreja, deveria haver maiores oportunidades de elas freqüentarem
cursos de teologia e outras áreas de estudo; e os homens, nos
Seminários e nas casas de formação, precisam de ser preparados para
considerarem as mulheres como cooperadoras no apostolado. 224
As
mulheres deveriam ser mais diretamente envolvidas nos programas pastorais, nos
Conselhos Pastorais diocesanos e paroquiais, e nos Sínodos diocesanos. As suas
capacidades e serviços sejam plenamente apreciados na assistência sanitária,
na educação, na preparação dos fiéis para os sacramentos, na construção
da comunidade e da paz. Como indicaram os Padres Sinodais, a presença da mulher
na missão de amor e serviço da Igreja contribui enormemente para levar Jesus,
compassivo, médico e reconciliador, ao povo asiático, especialmente aos pobres
e marginalizados. 225
A
família
6. A
família é o lugar normal onde o jovem cresce até à maturidade pessoal e
social. É também a transmissora da herança da própria humanidade, porque,
através da sua vida, aquela passa de geração em geração. A família ocupa
um lugar muito importante nas culturas asiáticas; e, como observaram os Padres
Sinodais, valores familiares como o respeito filial, o amor e o cuidado dos
idosos e dos doentes, o amor pelas crianças e a harmonia são tidos em grande
estima em todas as culturas do Continente e religiões tradicionais.
Do
ponto de vista cristão, a família é uma espécie de « Igreja doméstica ».
226 A família cristã, à semelhança da Igreja no seu conjunto, deveria
ser um lugar onde a verdade do Evangelho fosse a regra de vida e o dom que os
seus membros oferecem à comunidade mais alargada. Por isso, ela não é
simplesmente objeto dos cuidados pastorais da Igreja, mas um dos mais eficazes
agentes da evangelização da Igreja. As famílias cristãs são hoje chamadas a
testemunhar o Evangelho em tempos e circunstâncias difíceis, já que elas próprias
estão ameaçadas por um batalhão de forças contrárias. 227 Para
ser agente de evangelização num tempo assim, a família cristã necessita de
ser genuinamente « uma Igreja doméstica », vivendo humilde e amorosamente a
vocação cristã.
Como
apontavam os Padres Sinodais, isto significa que a família deve tomar parte ativa
na vida paroquial, participando nos Sacramentos, especialmente na
Eucaristia e no sacramento da Penitência, e comprometendo-se ao serviço dos
outros. Mas significa também que os pais se devem esforçar por fazer, dos
momentos em que a família está reunida, uma ocasião para rezar, para ler e
meditar a Bíblia, para celebrações especiais presididas por eles próprios e
para uma saudável recreação. Isto ajudará a família cristã a tornar-se um
centro de evangelização, onde cada membro experimenta o amor de Deus e
comunica-o aos outros. 228 Os Padres Sinodais reconheceram igualmente
que os filhos têm um papel na evangelização, quer no seio da própria família
quer na comunidade mais alargada. 229 Convencido de que « o futuro
da Igreja e do mundo passa através da família », 230 proponho uma
vez mais para estudo e implementação aquilo que publiquei sobre o tema da família
na Exortação Apostólica Familiaris consortio, resultante da V assembléia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos de 1980.
Os
jovens
7. Os
Padres Sinodais mostraram-se particularmente sensíveis ao tema da juventude na
Igreja. Os problemas muito complexos, que os jovens enfrentam hoje neste mundo
em mudança da Ásia, obrigam a Igreja a recordar-lhes a sua responsabilidade
pelo futuro da sociedade e da Igreja, dando-lhes coragem e apoio a todo o
momento esperando que eles abracem tal responsabilidade. A Igreja oferece-lhes a
verdade do Evangelho como um mistério cheio de alegria e libertação, mas que
precisa de ser conhecido, vivido e partilhado com coragem e convicção.
Se os
jovens devem ser realmente agentes eficazes de missão, a Igreja tem de
dedicar-lhes um cuidado pastoral apropriado. 231 Em sintonia com os
Padres Sinodais, recomendo que cada diocese da Ásia, onde for possível,
designe capelães ou diretores jovens para dinamizarem a formação espiritual
e o apostolado da juventude. As escolas católicas e as paróquias têm um papel
vital na formação integral dos jovens, procurando conduzi-los por um caminho
de verdadeiro discipulado e desenvolvendo neles aquelas qualidades humanas que a
missão requer. O apostolado juvenil organizado e os grupos de jovens podem
fomentar a experiência da amizade cristã, que é tão importante para o jovem.
A paróquia, as associações e os movimentos podem ajudá-los a lutarem melhor
contra as pressões sociais, oferecendo-lhes não só um crescimento mais
amadurecido na vida cristã, mas também assistência quanto a orientação
profissional, preparação vocacional e direção espiritual.
A
formação cristã dos jovens da Ásia deverá ter em conta que estes não são
apenas objeto do cuidado pastoral da Igreja, mas também « agentes e
cooperadores na missão da Igreja nas suas diversas obras apostólicas de amor e
serviço ». 232 Por isso, nas paróquias e dioceses, os jovens e as
jovens deveriam ser convidados a tomarem parte na organização das atividades que lhes dizem respeito. A sua própria frescura e entusiasmo, o seu espírito
de solidariedade e de esperança podem torná-los construtores de paz num mundo
dividido; e, neste sentido, é encorajador ver os jovens envolvidos em programas
de intercâmbio entre Igrejas particulares dos países asiáticos, e mesmo de
outros Continentes, para promoverem o diálogo inter-religioso e intercultural.
Comunicações
sociais
8.
Numa era de globalização, « os meios de comunicação social alcançaram
tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação
e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares
e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado
pelos mass-media ». 233 O mundo vai assistindo ao aparecimento duma
nova cultura, que « nasce, menos dos conteúdos do que do próprio fato de
existirem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas, novas
atitudes psicológicas ». 234 O papel excepcional, desempenhado
pelos meios de comunicação social na configuração do mundo, das suas
culturas e formas de pensamento, levou a mudanças rápidas e amplas nas
sociedades asiáticas.
Inevitavelmente,
também a missão evangelizadora da Igreja foi afetada profundamente pelo
impacto dos mass-media. Considerando a influência sempre maior que têm mesmo
nas regiões mais remotas da Ásia, podem ser de grande ajuda no anúncio do
Evangelho em todos os recantos do Continente. Porém, « não é suficiente usá-los
para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário
integrar a mensagem nesta nova cultura, criada pelas modernas
comunicações »; 235 por isso, a Igreja precisa de encontrar formas
de integrar cuidadosamente os mass-media nos seus planos e atividades pastorais, para que, através do seu uso
efetivo, a força do Evangelho possa
estender-se ainda mais aos indivíduos e povos inteiros, e impregnar a cultura
asiática com os valores do Reino.
Dou
eco ao elogio feito pelos Padres Sinodais à Rádio Veritas Asia,
a única estação continental de rádio para a Igreja na Ásia, pelos trinta
anos aproximadamente de evangelização através das suas transmissões. Há que
congregar esforços para potenciar este excelente instrumento de missão, através
de uma adequada programação lingüística, e da disponibilização de
colaboradores e ajuda financeira por parte das Conferências Episcopais e das
dioceses da Ásia. 236 Além da Rádio, existem também as publicações
católicas e as agências de notícias que podem ajudar a difundir informação
e a oferecer uma contínua educação e formação religiosa por todo o
Continente. Nos lugares onde os cristãos estão em minoria, isso pode ser um
importante meio para apoiar e educar para um sentido de identidade católica e
para dar a conhecer os princípios morais católicos. 237
Acolho
as recomendações dos Padres Sinodais relativas à evangelização através das
comunicações sociais, o « areópago da era moderna », na esperança de que
possa servir para a promoção humana e a divulgação da verdade de Cristo e do
ensinamento da Igreja. 238 Poderia ajudar a constituição em cada
diocese, se possível, de um serviço de comunicações e de informação. A
educação sobre os meios de comunicação social, incluindo a avaliação crítica
da sua produção, deve fazer parte da formação de sacerdotes, seminaristas,
religiosos, catequistas, profissionais leigos, estudantes das escolas católicas
e comunidades paroquiais.
Tendo em conta a influência enorme e o impacto
extraordinário de tais meios, os católicos hão-de trabalhar com os membros de
outras Igrejas e Comunidades Eclesiais e com os seguidores doutras religiões,
para assegurar um lugar para os valores espirituais e morais nos mass-media.
Juntamente com os Padres sinodais, encorajo o desenvolvimento de planos
pastorais de comunicações a nível nacional e diocesano, conforme as indicações
da Instrução Pastoral TATIS NOVæ, com particular atenção às
circunstâncias que prevalecem na Ásia.
Os
mártires
9.
Por mais importantes que sejam os programas de formação e as estratégias de
evangelização, em última análise é o martírio que revela ao mundo a
verdadeira essência da mensagem cristã. A própria palavra « mártir »
significa testemunha, e os que derramaram o próprio sangue por Cristo deram o
testemunho supremo do verdadeiro valor do Evangelho. Na Bula de proclamação do
Grande Jubileu do Ano 2000, Incarnationis mysterium, sublinhei a importância
vital de fazer memória dos mártires: « Do ponto de vista psicológico, o martírio
é a prova mais eloqüente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano
inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas perseguições
mais atrozes ». 239 Ao longo dos tempos, a Ásia deu à Igreja e ao
mundo uma grande multidão destes heróis da fé, e do coração da Ásia
levanta-se o grande canto de louvor: « Te martyrum candidatus laudat
exercitus ».
Este é o canto daqueles que morreram por Cristo no solo asiático
nos primeiros séculos da Igreja, mas é também o grito de alegria de homens e
mulheres de tempos mais recentes, como S. Paulo Miki e companheiros, S. Lourenço
Ruiz e companheiros, S. André Dung Lac e companheiros, S. André Kim Taegon e
companheiros. Que a grande multidão de mártires da Ásia, antigos e recentes,
nunca deixe de ensinar à Igreja asiática o que significa dar testemunho do
Cordeiro, em cujo sangue eles lavaram os seus vestidos (cf. Ap 7, 14)!
Que eles permaneçam como testemunhas invencíveis da verdade que, em todo o
tempo e lugar, os cristãos são chamados a proclamar, ou seja, a verdade do
poder da Cruz do Senhor! E que o sangue dos mártires da Ásia seja, agora e
sempre, semente de vida nova para a Igreja em todos os cantos do Continente!
CONCLUSÃO
Gratidão
e encorajamento
50. No
termo desta Exortação Apostólica Pós-Sinodal, que, procurando discernir a
palavra do Espírito às Igrejas que estão na Ásia (cf. Ap 1, 11),
vem comunicar os frutos da assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos,
desejo manifestar a gratidão da Igreja a todos vós, queridos irmãos e irmãs da
Ásia, que contribuístes de muitos modos para o bom êxito deste importante
acontecimento eclesial.
Em primeiro lugar e acima de tudo, louvamos novamente a
Deus pela riqueza de culturas, línguas, tradições e sensibilidades religiosas
deste grande Continente: Bendito seja Deus pelos povos da Ásia, tão ricos na sua
diversidade e unidos no seu anseio de paz e vida em abundância. Especialmente
agora, na proximidade imediata dos dois mil anos do nascimento de Jesus Cristo,
agradecemos a Deus por ter escolhido a Ásia como lugar da morada terrena do seu
Filho encarnado, o Salvador do mundo.
Não
posso deixar de testemunhar o meu apreço aos Bispos da Ásia pelo seu profundo
amor a Jesus Cristo, à Igreja e aos povos da Ásia, pelo seu testemunho de
comunhão e pela sua dedicação generosa à tarefa da evangelização. Agradeço
a todos os que formam a grande família da Igreja na Ásia: o clero, os
religiosos e religiosas e outras pessoas consagradas, os missionários, o laicato, as famílias, os jovens, os povos indígenas, os trabalhadores, os
pobres e atribulados. No fundo do meu coração, há um lugar especial para
quantos são perseguidos, na Ásia, pela sua fé em Cristo. Eles são as colunas
ocultas da Igreja; falando deles, o próprio Jesus pronuncia estas palavras de
conforto: « Vós sois bem-aventurados no Reino dos Céus » (cf. Mt 5, 10).
As
seguintes palavras de Jesus Cristo tranqüilizem a Igreja da Ásia: « Não
temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino » (Lc
12, 32). Aqueles que crêem em Cristo são ainda uma pequena minoria neste
Continente tão vasto e populoso. Mas, apesar de serem uma tímida minoria, eles
possuem uma fé viva, estão cheios de esperança e vitalidade que só o amor
pode originar.
De forma humilde e corajosa, têm influído nas culturas e
sociedades da Ásia, especialmente na vida dos pobres e desamparados, muito dos
quais nem partilham a fé católica. Eles são um exemplo para que os cristãos
de todo o mundo estejam prontos a partilhar o tesouro da Boa Nova « oportuna e inoportunamente » (2 Tm 4,2). Fortalecem-se com a força admirável do
Espírito Santo, já que, apesar da escassez geral de membros da Igreja na Ásia,
Ele garante que a presença eclesial se torne o fermento que, oculta e
silenciosamente, faz levedar toda a massa (cf. Mt 13, 33).
Os
povos da Ásia necessitam de Jesus Cristo e do seu Evangelho. A Ásia está
sedenta de água viva, que só Jesus lhe pode dar (cf. Jo 4, 10-15). Por
isso, os discípulos de Cristo na Ásia devem ser generosos nos seus esforços
para cumprirem a missão que receberam do Senhor, o Qual prometeu estar com eles
até ao fim do mundo (cf. Mt 28, 20). Confiando no Senhor que não
abandonará os que chamou, a Igreja na Ásia encaminha-se alegremente para o
Terceiro milênio. A sua única alegria é a que nasce da partilha com a multidão
dos povos asiáticos do dom imenso que ela mesma recebeu: o amor de Jesus
Salvador. A única ambição dela é continuar a sua missão de serviço e de
amor, para que todos os asiáticos « tenham vida e a tenham em abundância » (Jo
10, 10).
Súplica
à Mãe de Cristo
1.
Diante de missão tão desafiadora, voltemos o nosso olhar para Maria, a Mãe do
Redentor, pela qual, como afirmaram os Padres Sinodais, os cristãos asiáticos
têm um grande amor e afeto, venerando-A como sua própria Mãe e Mãe de
Cristo. 240 Por toda a Ásia, existem centenas de santuários e
templos marianos, onde se congregam não só os fiéis católicos, mas também
crentes doutras religiões.
A
Maria, modelo de todos os discípulos e Estrela luminosa da Evangelização,
confio a Igreja da Ásia no limiar do Terceiro milênio da era cristã, com a
plena confiança de que os d'Ela são ouvidos que sempre nos escutam, o seu é
um coração que sempre nos acolhe, e as suas são preces que nunca falham:
O
Santa Maria, Filha do Deus Altíssimo,
Virgem Mãe do Salvador e Mãe de todos nós,
olhai, com bondade, para a Igreja do vosso Filho
plantada em solo asiático.
Sede o seu guia e modelo, enquanto ela prossegue
a missão de amor e serviço do vosso Filho,
na Ásia.
Vós aceitastes plena e livremente
o chamamento do Pai
para serdes a Mãe de Deus:
ensinai-nos a arrancar de nossos corações
tudo o que não for de Deus,
para que possamos também ficar
cheios do Espírito Santo, que vem do Alto.
Vós meditastes os desígnios misteriosos de Deus
no silêncio do vosso coração:
ajudai-nos a discernir, dia após dia,
os sinais da poderosa mão de Deus.
Fostes apressadamente visitar Isabel,
e ajudá-la nos seus dias de expectação:
alcançai-nos o mesmo espírito de zelo e de serviço
na nossa tarefa evangelizadora.
Levantastes a voz para cantar
os louvores do Senhor:
guiai-nos no anúncio jubiloso da fé
em Cristo nosso Salvador.
Vós sentistes compaixão ao ver a necessidade
e pedistes ao vosso Filho para ir em sua ajuda:
ensinai-nos a nunca ter medo
de falar do mundo a Jesus
e de Jesus ao mundo.
Vós estáveis ao pé da Cruz
quando o vosso Filho exalou o último suspiro:
ficai conosco enquanto procuramos viver
em união de espírito e de serviço
com todos aqueles que sofrem.
Vós orastes com os discípulos na Sala de Cima:
ajudai-nos a acolher o Espírito
e a ir para onde quer que Ele nos conduza.
Protegei a Igreja de todas as forças que a ameaçam.
Ajudai-a a ser uma verdadeira imagem
da Santíssima Trindade.
Pedi que, através do amor e serviço da Igreja,
todos os povos asiáticos
cheguem a conhecer o vosso Filho
Jesus Cristo, o único Salvador do mundo,
e experimentem assim a alegria da vida
em toda a sua plenitude.
O Virgem Maria, Mãe da Nova Criação
e Mãe da Ásia,
rogai por nós, vossos filhos, agora e sempre!
Dado em Nova Deli, na Índia, no dia 6 de Novembro do ano 1999, vigésimo
segundo de Pontificado.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
As
maravilhas do plano de Deus, na Asia
Preparação
da assembléia Especial
A
celebração da assembléia Especial
Partilha
dos frutos da assembléia Especial
CAPÍTULO
I
O
CONTEXTO ASIÁTICO
A Ásia,
terra natal de Jesus e da Igreja
Realidades
religiosas e culturais
Realidades
econômicas e sociais
Realidades
políticas
A
Igreja da Ásia: passado e presente
CAPÍTULO
II
JESUS
SALVADOR: UM DOM PARA A ÁSIA
O dom
da fé
Jesus
Cristo, o Deus humanado que salva
A
pessoa e missão do Filho de Deus
Jesus
Cristo: a verdade da humanidade
O caráter
único e universal da salvação de Jesus
CAPÍTULO
III
O
ESPÍRITO SANTO: SENHOR QUE DÁ A
VIDA
O Espírito
de Deus na criação e na história
O Espírito
Santo e a encarnação do Verbo
O Espírito
Santo e o Corpo de Cristo
O Espírito
Santo e a missão da Igreja na Ásia
CAPÍTULO
IV
JESUS
SALVADOR: O DOM A ANUNCIAR
A
primazia do anúncio
Anunciar
Jesus Cristo na Ásia
O
desafio da inculturação
Areas-chave
de inculturação
Vida
cristã como anúncio
CAPÍTULO
V
COMUNHÃO
E DIÁLOGO AO SERVIÇO DA MISSÃO
Comunhão
e missão, de mãos dadas
Comunhão
dentro da Igreja
Solidariedade
entre as Igrejas
As
Igrejas Católicas Orientais
Partilhando
esperanças e sofrimentos
Uma
missão de diálogo
Diálogo
ecumênico
Diálogo
inter-religioso
CAPÍTULO
VI
O
SERVIÇO DE PROMOÇÃO HUMANA
A
doutrina social da Igreja
A
dignidade da pessoa humana
Amor
preferencial pelos pobres
O
Evangelho da vida
Serviço
de saúde
Educação
Construção
da paz
Globalização
Dívida
externa
O meio
ambiente
CAPÍTULO
VII
TESTEMUNHAS
DO EVANGELHO
Uma
Igreja que testemunha
Pastores
A vida
consagrada e as Sociedades Missionárias
O laicato
A família
Os
jovens
Comunicações
sociais
Os mártires
CONCLUSÃO
Gratidão
e encorajamento
Súplica
à Mãe de Cristo
REFERÊNCIAS:
(1) João
Paulo II, Discurso à VI assembléia Plenária da Federação das Conferências
Episcopais da Ásia (FABC) (Manila, 15 de Janeiro de 1995), 11: L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 21 de Janeiro de 1995), 37.
(2)
Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), 38: AAS
87 (1995), 30.
(3) N.
11: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 21 de Janeiro de 1995), 37.
(4) João
Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994),
38: AAS 87 (1995), 30.
(5)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Mensagem final,
2.
(6)
Discurso à VI assembléia Plenária da Federação das Conferências Episcopais
da Ásia (FABC) (Manila, 15 de Janeiro de 1995), 10: L'Osservatore Romano
(ed. portuguesa de 21 de Janeiro de 1995), 37.
(7) João
Paulo II, Carta sobre a peregrinação aos lugares relacionados com a história
da salvação (29 de Junho de 1999), 3: L'Osservatore Romano (ed.
portuguesa de 10 de Julho de 1999), 352.
(8)
Cf. propositio 3.
(9) Propositio
1.
(10)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Lineamenta,
3.
(11)
Cf. ibid., 3.
(12)
Cf. propositio 32.
(13)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Instrumentum
laboris, 9.
(14)
Cf. propositiones 36 e 50.
(15) Propositio
44.
(16) Propositio
27.
(17)
Cf. propositio 45.
(18) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Instrumentum laboris,
9.
(19)
Cf. propositio 39.
(20) Propositio
35.
(21)
Cf. propositio 38.
(22)
Cf. propositio 22.
(23)
Cf. propositio 52.
(24)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Lineamenta,
6.
(25)
Cf. propositio 56.
(26)
João Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de
1994), 18: AAS 87 (1995), 16.
(27)
Cf. propositio 29.
(28)
Cf. propositiones 29 e 31.
(29) Propositio
51.
(30)
Cf. propositiones 51, 52 e 53.
(31) Propositio
57.
(32)
Cf. ibid., 57.
(33) Propositio
54.
(34)
N. 3: AAS 83 (1991), 252.
(35)
Cf. propositio 5.
(36) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, II parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 25
de Abril de 1998), 202.
(37) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 3.
(38) Propositio
8.
(39)
N. 11: AAS 83 (1991), 260.
(40) Ibid.,
11: o. c., 260.
(41) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 3.
(42) Missal
Romano: Oração Eucarística I das Missas da Reconciliação.
(43)
João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979), 10: AAS
71 (1979), 274.
(44)
Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
(45)
N. 9: AAS 71 (1979), 272-273.
(46) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 3.
(47)
Cf. ibid., 3.
(48)
Ibid., 3.
(49) Propositio
5.
(50)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 6:
AAS 83 (1991), 255.
(51)
João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979), 7: AAS
71 (1979), 269.
(52)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Dominum et vivificantem (18 de Maio de
1986), 54: AAS 78 (1986), 875.
(53)
Cf. ibid., 59: o. c., 885.
(54)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990),
28: AAS 83 (1991), 274; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a
Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 26.
(55)
Cf. propositio 11; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a atividade missionária
da Igreja Ad gentes, 4 e 15; Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium,
17; Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes,
11, 22 e 38; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro
de 1990), 28: AAS 83 (1991), 273-274.
(56)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, II parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 25
de Abril de 1998), 202.
(57)
João Paulo II, Carta enc. Dominum et vivificantem (18 de Maio de 1986),
50: AAS 78 (1986), 870; cf. S. Tomás de Aquino, Summa theologiæ,
III, 2, 10-12; 6, 6; 7, 13.
(58)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Dominum et vivificantem (18 de Maio de
1986), 50: AAS 78 (1986), 870.
(59)
Cf. ibid., 24: o. c., 832.
(60)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 28: AAS 83 (1991), 274.
(61)
N. 29: AAS 83 (1991), 275; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a
Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 45.
(62)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 29: AAS 83 (1991), 275.
(63)
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 13.
(64) Propositio
12.
(65)
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 17.
(66)
Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 22: AAS 68
(1976), 20.
(67) Propositio
8.
(68)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990),
45: AAS 83 (1991), 292.
(69)
Cf. ibid., 46: o. c., 292-293.
(70)
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre a
liberdade religiosa Dignitatis humanæ, 3-4; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris
missio (7 de Dezembro de 1990), 39: AAS 83 (1991), 287; propositio
40.
(71)
Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 53: AAS
68 (1976), 41-42.
(72)
Discurso aos representantes das religiões não cristãs (Madrasta, 5 de
Fevereiro de 1986), 2: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 16 de
Fevereiro de 1986), 74.
(73)
Cf. propositiones 11 e 12; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris
missio (7 de Dezembro de 1990), 28: AAS 83 (1991), 273-274.
(74) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, II parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 25
de Abril de 1998), 203.
(75) Propositio
58.
(76)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998),
72: AAS 91 (1999), 61.
(77) assembléia
Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 15.
(78)
Cf. ibid., 15.
(79)
Ibid., 15.
(80) Propositio
6.
(81)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 6.
(82) Ibid.,
6.
(83)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, III parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 2
de Maio de 1998), 213.
(84)
Cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi
(8 de Dezembro de 1975), 20: AAS 68 (1976), 18-19.
(85)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990),
52: AAS 83 (1991), 300.
(86)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 9.
(87)
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium
et spes, 22; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de
Dezembro de 1990), 28: AAS 83 (1991), 273-274.
(88)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 56: AAS 83 (1991), 304.
(89)
João Paulo II, Homilia na Missa para os católicos do Bengala Ocidental (Calcutá,
4 de Fevereiro de 1986), 3; L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 16 de
Fevereiro de 1986), 73.
(90)
Cf. propositio 43.
(91)
Cf. propositio 7.
(92) Ibid.,
7.
(93)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990),
54: AAS 83 (1991), 302.
(94)
Cf. ibid., 54: o. c., 301.
(95)
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum concilium, 10; assembléia Especial para a
Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post disceptationem, 14.
(96)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 14; propositio 43.
(97)
Cf. propositio 43.
(98)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio post
disceptationem, 13.
(99)
Cf. propositio 17.
(100)
Cf. propositio 18.
(101)
Cf. propositio 17.
(102)
Nn. 60, 62 e 105: AAS 91 (1999), 52-53, 54 e 85-86.
(103)
Cf. propositio 24.
(104)
Cf. propositio 25.
(105)
Cf. ibid., 25.
(106)
Cf. propositio 27.
(107)
Cf. propositio 29.
(108)
Cf. Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 91: AAS
83 (1991), 338.
(109) Propositio
19.
(110) Propositio
8.
(111)
Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanæ, 2.
(112) Propositio
6.
(113)
S. Agostinho, De civitate Dei, XVIII, 51, 2: PL 41, 614; cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
(114)
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a atividade missionária da Igreja Ad
gentes, 7; cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 17.
(115)
Paulo VI, Discurso ao Colégio Cardinalício (22 de Junho de 1973): AAS
65 (1973), 391.
(116)
João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de
Dezembro de 1988), 18: AAS 81 (1989), 421.
(117)
Cf. ibid., 18: o. c., 421; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 4.
(118)
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 775.
(119)
Cf. ibid., 775.
(120)
João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de
Dezembro de 1988), 32: AAS 81 (1989), 452.
(121)
Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 16.
(122) Propositio
13.
(123) Ibid.,
13.
(124)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, III parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 2
de Maio de 1998), 213.
(125) Propositio
13; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium,
22.
(126)
Cf. propositio 13.
(127)
Cf. propositio 15; Congr. da Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja
Católica sobre alguns aspectos da Igreja como comunhão Communionis notio
(28 de Maio de 1992), 3-10: AAS 85 (1993), 839-844.
(128)
Cf. propositio 15.
(129)
Cf. ibid., 15.
(130)
Cf. propositio 16.
(131) Propositio
34.
(132)
Cf. propositio 30; João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio
(7 de Dezembro de 1990), 51: AAS 83 (1991), 298.
(133)
Cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi
(8 de Dezembro de 1975), 58: AAS 68 (1976), 46-49; João Paulo II, Carta
enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 51: AAS 83
(1991), 299.
(134)
Cf. propositio 31.
(135)
Cf. propositio 14.
(136)
Cf. assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, III parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 2
de Maio de 1998), 213.
(137)
Cf. propositio 50.
(138)
Cf. propositiones 36 e 50.
(139)
Cf. João Paulo II, Discurso ao Sínodo dos Bispos da Igreja Sírio-Malabar (8
de Janeiro de 1996), 6: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 20 de
Janeiro de 1996), 29.
(140)
Cf. propositio 50.
(141)
Cf. propositio 56.
(142)
Cf. propositio 51.
(143)
Cf. propositio 52.
(144) Propositio
53.
(145)
Cf. propositio 57.
(146)
Cf. Carta sobre a peregrinação aos lugares relacionados com a história da
salvação (29 de Junho de 1999), 7: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa
de 10 de Julho de 1999), 353.
(147)
Carta enc. Ecclesiam suam (6 de Agosto de 1964): AAS 56 (1964),
613.
(148)
Cf. propositio 42.
(149) Ibid.,
42.
(150)
João Paulo II, Discurso na Audiência Geral (26 de Julho de 1995), 4: L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 29 de Julho de 1995), 364.
(151)
Cf. João Paulo II, Discurso na Audiência Geral (20 de Janeiro de 1982), 2: L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 24 de Janeiro de 1982), 44.
(152)
Cf. n. 53: AAS 87 (1995), 37.
(153)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 55: AAS 83 (1991), 302.
(154)
Cf. ibid., 55: o. c., 304.
(155)
N. 4: AAS 83 (1991), 101-102.
(156)
N. 56: AAS 83 (1991), 304.
(157) Propositio
41.
(158) Ibid.,
41.
(159)
Cf. ibid., 41.
(160)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 57: AAS 83 (1991), 305.
(161)
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de Março
de 1996), 8: AAS 88 (1996), 383.
(162)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro
de 1987), 47: AAS 80 (1988), 582.
(163)
Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1.
(164)
Em muitos meios, o ponto de partida foi a Encíclica Rerum novarum do
Papa Leão XIII (15 de Maio de 1891), que introduziu uma série de declarações
solenes da Igreja acerca de vários aspectos da questão social. Entre estas,
conta-se a Encíclica Populorum progressio (26 de Março de 1967), que o
Papa Paulo VI publicou em resposta a indicações do Concílio Vaticano II e à
nova situação do mundo. Para comemorar o trigésimo aniversário desta Encíclica,
lancei a Encíclica Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), na
qual, prosseguindo o Magistério mais recente, convidei todos os fiéis a
sentirem-se, eles próprios, chamados a uma missão de serviço que inclui
necessariamente a promoção do desenvolvimento humano integral.
(165)
João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de
1987), 41: AAS 80 (1988) 570-571.
(166)
Cf. Congr. da Doutrina da Fé, Instr. sobre a liberdade cristã e a libertação
Libertatis conscientia (22 de Março de 1986), 72: AAS 79 (1987),
586.
(167)
Cf. propositio 22.
(168)
Cf. propositio 21.
(169)
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de
Dezembro de 1988), 5: AAS 81 (1989), 400-402; Carta enc. Evangelium
vitæ (25 de Março de 1995), 18: AAS 87 (1995), 419-420.
(170) Propositio
22; cf. propositio 39.
(171)
João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de
1987), 42: AAS 80 (1988), 573; cf. Congr. da Doutrina da Fé, Instr.
sobre a liberdade cristã e a libertação Libertatis conscientia (22 de
Março de 1986), 68: AAS 79 (1987), 583.
(172)
Cf. propositio 44.
(173)
Cf. ibid., 44.
(174)
Cf. propositio 39.
(175)
Cf. propositio 22.
(176)
Cf. propositio 36.
(177)
Cf. propositio 38.
(178)
Cf. ibid., 38.
(179)
Cf. propositio 33.
(180)
Cf. ibid., 33.
(181)
Cf. propositio 35.
(182)
Cf. ibid., 35.
(183)
Propositio 32.
(184)
Cf. João Paulo II, Carta ap. Salvifici doloris (11 de Fevereiro de
1984), 28-29: AAS 76 (1984), 242-244.
(185)
Cf. propositio 20.
(186)
Cf. ibid., 20.
(187)
Cf. propositio 21.
(188)
Cf. ibid., 21.
(189)
Cf. ibid., 21.
(190)
Cf. propositio 23.
(191)
Cf. ibid., 23.
(192)
Cf. propositio 55.
(193)
Cf. propositio 49.
(194)
João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro de 1998), 3: AAS
90 (1998), 50.
(195)
Cf. propositio 49.
(196)
Cf. propositio 48.
(197)
Cf. ibid., 48; João Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente
(10 de Novembro de 1994), 51: AAS 87 (1995), 36.
(198)
Cf. propositio 48.
(199)
Cf. propositio 22; João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis
(30 de Dezembro de 1987), 44: AAS 80 (1988), 576-577.
(200)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979),
15: AAS 71 (1979), 287.
(201)
Cf. ibid., 15: o. c., 287.
(202)
Cf. propositio 47.
(203) Homilias
sobre o Evangelho de S. Mateus, 50, 3-4: PG 58, 508-509.
(204)
Cf. Decr. sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 2 e 35.
(205)
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990), 31: AAS 83 (1991), 277.
(206)
Ibid., 42: o. c., 289.
(207)
Ibid., 42: o. c., 289.
(208)
Cf. propositio 25.
(209)
Cf. ibid., 25.
(210)
Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 46.
(211)
Cf. propositio 27.
(212)
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de Março
de 1996), 103: AAS 88 (1996), 479.
(213)
Cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 69:
AAS 68 (1976), 59.
(214)
Cf. propositio 27.
(215)
Cf. ibid., 27.
(216)
Cf. ibid., 27.
(217)
Cf. propositio 28.
(218) Ibid.,
28.
(219)
Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 31.
(220)
Cf. propositio 29.
(221)
Cf. ibid., 29.
(222)
Cf. ibid., 29.
(223)
João Paulo II, Discurso na Audiência Geral (13 de Julho de 1994), 4: L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 16 de Julho de 1994), 404.
(224)
Cf. propositio 35.
(225)
Cf. ibid., 35.
(226)
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
(227)
Cf. Assembleia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, Relatio ante
disceptationem, III parte: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 2
de Maio de 1998), 213.
(228)
Cf. propositio 32.
(229)
Cf. propositio 33.
(230)
João Paulo II, Discurso à Confederação dos Consultores Familiares Cristãos
(29 de Novembro de 1980), 4: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 21
de Dezembro de 1980), 777.
(231)
Cf. propositio 34.
(232) Ibid.,
34.
(233)
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990),
37: AAS 83 (1991), 285.
(234) Ibid.,
37: o. c., 285.
(235)
Ibid., 37; o. c., 285.
(236)
Cf. propositio 45.
(237)
Cf. ibid., 45.
(238)
Cf. ibid., 45.
(239)
N. 13: AAS 91 (1999), 142.
(240)
Cf. propositio 59.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, ao sabor das paixões, amontoa- rão para si mestres, conforme suas próprias concupiscências e des- viarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas".(2Tm 4,3-4).